O General Inverno está chegando

por Carlos Pissolito

Mark Twain disse isso e repetimos várias vezes. “A história não se repete, mas tem ritmo.” Hoje acrescentamos que esse ritmo muda de compasso, mas sua essência, que é a sequência ordenada de eventos, se mantém ao longo do tempo.

A história da Rússia, por exemplo, apresenta várias invasões contra seu vasto território. Entre eles, há duas que atingiram o status de memoráveis, ​​como a invasão napoleônica em 1812 e a do III Reich em 1941. Ambas foram físicas e se materializaram pelo avanço em território russo de exércitos poderosos e que quase atingiram seus objetivos de conquista, mas eles acabaram sendo derrotados decisivamente.

Hoje, acredito que estamos testemunhando um evento semelhante, embora ele se mova para uma batida diferente, mais lento, mas igualmente decisivo, que é a invasão do Ocidente contra a Rússia. Um movimento geopolítico que começou com a queda da URSS em 1991 com o avanço imparável da OTAN na Rússia com a intenção de cercá-la.

Mas, não nos precipitemos, recordemos as duas ocasiões anteriores já mencionadas. A primeira foi a invasão francesa do Grande Arnée, liderada pelo gênio militar da época, Napoleão Bonaparte. Diante desse poder, a Rússia optou por usar a técnica da terra arrasada, que consistia em recuar e não lutar de frente contra o avassalador avanço francês.

A segunda invasão ocorreu 127 anos depois e, também, após um rápido avanço, o 6º Exército alemão rendeu-se em Stalingrado, após as ofensivas que o Exército Vermelho lançou durante o frio inverno de 1943.

Além disso, hoje, como ontem, a Rússia a princípio os deixou e os exércitos inimigos puderam avançar sem grandes problemas até as profundezas de seu extenso território. Mas, quando tudo parecia perdido, a Rússia reagiu e retomou a iniciativa lançando uma contraofensiva que terminou na capital de seus inimigos.

A guerra na Ucrânia não começou em fevereiro deste ano, mas muito antes com a chegada de simpatizantes da OTAN ao governo ucraniano em 2014, quando a OTAN aproveitou para comprar armas e instruir as Forças Armadas ucranianas e fortificar cada uma de suas cidades.

Esse parece ser o caso novamente com a OTAN movendo-se rápida, mas “pacificamente” para o Leste desde o colapso da URSS em 1991. Mas acabou de ser interrompido na Ucrânia. A aproximação do inverno, que promete ser duro e cruel como os anteriores, obriga todos a fazerem seus cálculos e suas apostas. A saber:

● A Rússia já alcançou seus principais objetivos de guerra: a desmilitarização da Ucrânia e sua consequente desnazificação. Resta saber se ficará satisfeito com o Donbass ou se continuará avançando para o oeste como no passado.

● A Europa do meio está submersa numa gravíssima crise energética que se materializa no aumento dos preços do gás, da eletricidade e dos combustíveis, como consequência de ter seguido à risca as sanções dos EUA contra a Rússia e alocado fundos para armar a Ucrânia.

● Em nossa região, o Brasil também jogou suas cartas e seu ministro das Relações Exteriores garantiu que seu país comprará todo o diesel que puder da Rússia. Além disso, em fevereiro passado, Bolsonaro viajou a Moscou e assinou um acordo para adquirir fertilizantes para seu agronegócio e um submarino de propulsão nuclear, após a recusa da França em fazê-lo.

● Como consequência, os chefes dos respectivos executivos do Reino Unido, Estônia e Itália foram forçados a renunciar. Enquanto o presidente dos EUA registra o menor nível de apoio, mesmo entre membros de seu partido, nas últimas décadas, a figura de Vladimir Putin continua se fortalecendo, tanto dentro da Rússia quanto entre seus pares no exterior, especialmente entre os membros do nascente BRICS.

Como podemos ver, a história tem um ritmo implacável para quem não a estuda a fundo. Desde então, parece que, hoje, como ontem, todos parecem estar esperando pelo General Inverno. Embora por motivos diferentes e com expectativas diferentes.

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