Operações de paz: existe um estilo sul-americano?

Quando, em 30 de abril de 2004, o Conselho de Segurança da ONU estabeleceu o mandato para destacamento na MINUSTAH, a sexta missão de paz no Haiti, muitas foram as expressões de especialistas carregadas de ceticismo. O fato de um grupo de nações sul-americanas ter assumido a difícil missão do Haiti parecia não lhe trazer paz de espírito, no entanto, desta vez o resultado seria muito diferente do esperado. Uma missão de paz complexa seria bem-sucedida. As causas para isso, como em qualquer processo, seriam múltiplas. Mas um deles estava se formando entre os que estudavam o fenômeno: um estilo sul-americano em operações de paz havia surgido. Além de quão pretensiosa essa declaração possa parecer, tentaremos substancia-la.

O processo que levaria à consolidação do estilo sul-americano começou há vários anos. Várias nações da região estavam participando, em solidão, há meio século nessas operações. Mas, foi a partir do século XXI que vários deles perceberam a necessidade de unir forças. Por exemplo, grupos de soldados chilenos, bolivianos e paraguaios começaram a integrar o Centro Argentino de Treinamento Conjunto em Operações de Paz (CAECOPAZ). Por outro lado, oficiais argentinos serviram como observadores das forças brasileiras nas sucessivas missões da ONU em Timor Leste.

Se o regionalismo natural constituísse a embalagem do novo produto. As ideias eram, sem dúvida, seu conteúdo. Eles estavam amadurecendo à luz das novas missões das Forças Armadas. Os soldados aprenderam que a força só poderia ser usada sob o princípio da legitimidade moral e em um contexto de legalidade.

 

Por outro lado, o ambiente operacional da MINUSTAH estava longe de ser simples. A princípio, era necessário entender que o Haiti era um estado falido, no qual o monopólio da violência havia passado para as mãos de quadrilhas criminosas. Sem mencionar o fato de a população viver privada de serviços essenciais por anos.

Obviamente, que os membros dos contingentes de paz da Argentina, Brasil e Chile não teriam operado como operavam se não tivessem uma disposição interna em seus membros para fazê-lo. Essa disposição interna, creio, está enquadrada em uma característica particular de uma personalidade comum, que nós, sul-americanos, temos.

Tudo isso foi a matéria-prima. Que, convenientemente, liderado pela prudente liderança militar de seu primeiro “Comandante da Força”, consubstanciado na pessoa do general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, atualmente, chefe do Gabinete de Segurança Institucional do Brasil.

Tudo isso foi responsável pelo que hoje chamamos orgulhosamente de estilo sul-americano nas operações de paz. Com certeza como todo estilo. Isso continuará seu caminho, enriquecendo e crescendo. O importante é que isso poderia ser tomado como exemplo para outras áreas da integração regional desejada.

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Cláudio Pissolito

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