Os males do fogo

O histórico da agricultura da região, de se sujeitar e enfrentar as intempéries climáticas sazonais do verão e do inverno, que estão se acentuando, agora ganha um novo componente muito mais perigoso e devastador, que é o fogo capaz de causar prejuízos imediatos e futuros, pois além de destruir plantações, também afeta a fertilidade do solo.

Com o risco de queimadas multiplicado nos últimos anos, é preciso adotar medidas saneadoras concretas e definitivas para enfrentar esta ameaça que, antes comum após as geadas e as secas prolongadas, agora acontecem com muito mais frequência e intensidade.

Além de consumir plantações em ponto de colheita, como é o caso do milho, da cana e da soja, incluindo a banana e a mandioca, as grandes queimadas trazem prejuízos à fertilidade da terra, pois as temperaturas elevadas alteram as características físicas, químicas, morfológicas e biológicas do solo.

Entre os danos imediatos estão a mudança radical do pH, a redução do teor de nutrientes e de carbono e a interferência na biodiversidade da micro, meso e macrofauna, que controlam as populações de fungos e bactérias do solo.

“…queimadas também são motivadas pelo microclima afetado pelo desmatamento…”  

Além das já conhecidas e comprovadas causas de âmbito globalizado, como as mudanças do macroclina pelo aquecimento do ar e das águas, as queimadas também são motivadas pelo microclima afetado pelo desmatamento, pela redução de nascentes e o assoreamento de rios e lagos, incluindo as áreas de várzeas, já inexistentes.

Todos aqueles com mais de 40 anos que frequentaram as regiões rurais com frequência percebem a mudança da temperatura havida em curto prazo, pois a aragem fria e o solo úmido das estradas rurais contornadas pelas matas foram substituídos pelo vento seco e quente sentido na pele e pela poeira fina em permanente suspensão.

A negação de que o clima está sendo alterado pela ação humana é, provavelmente, a pior causa da degradação ambiental causada por aqueles que consideram os recursos naturais como fontes inesgotáveis para exploração da produção e acumulação de riqueza, sem considerar a necessidade de devolver à natureza o que lhe é retirado.

O uso equilibrado e consciente do solo e das águas é a forma mais sábia de preservar a produção a custos aceitáveis e garantir o alimento às novas gerações que se sucedem vocacionadas mais à tecnologia do que à agricultura, pois o fogo é apenas uma das ameaças que pairam sobre o futuro do Planeta.

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Cláudio Pissolito

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