Palmital 40 graus

O título da manchete de hoje do JC é bastante sugestivo ao lembrar o filme nacional de 1955, de Nelson Pereira dos Santos, intitulado Rio 40 graus, em homenagem à única cidade brasileira a registrar essa temperatura na época em que as mudanças climáticas não faziam parte das preocupações dos brasileiros e que o calor era considerado dádiva das regiões praianas.

Passados quase 70 anos do filme que virou música de autoria de Fernanda Abreu e Fausto Fawcett, o anúncio de temperaturas de 40 graus em cidades agrícolas como Palmital, em meio a uma seca histórica e à reduzida umidade do ar, representa um péssimo presságio.

Diante da situação calamitosa do desaparecimento das águas subterrâneas, exploradas à exaustão nas últimas décadas, assim como a flagrante redução dos leitos dos rios, assoreados e sugados pelos sistemas de irrigação de lavouras, qualquer informação sobre o tempo e a temperatura despertam a atenção das pessoas.

Mesmo enfrentando a catástrofe anunciada pelos ambientalistas, sempre desacreditados e chamados de alarmistas, não se constata mudanças de comportamento das populações e das instituições públicas e privadas no sentido de preservar os recursos naturais existentes e muito menos reverter a situação de descalabro atual.

“…não se constata mudanças de comportamento das populações e das instituições públicas e privadas…”

Para ilustrar o drama das mudanças climáticas já não é preciso acompanhar o noticiário, pois basta lembrar os quase dois mil alqueires de plantações, palhadas e matas queimadas em Palmital em 2022, observar caminhões entrando em combustão nas rodovias cujos asfaltos atingem 70 graus e abrir as torneiras e não encontrar água sequer para matar a sede.

Em tempo de seca e de baixa umidade do ar, uma simples faísca de implemento agrícola pode se transformar em um grande incêndio, enquanto um rico poço comum ou artesiano do passado hoje não produz uma gota de água.

O calor exagerado é causador de alergias de pele e, principalmente, de câncer, a poeira suspensa no ar contaminado de produtos químicos causa doenças pulmonares graves e até os exercício físicos em horários de muito calor são prejudiciais à saúde humana.

Junto com as doenças do homem, sofrem também os animais silvestres que não mais conseguem regular a temperatura corporal naturalmente e também os bichos caseiros, confinados em cômodos quentes ou respirando ar condicionado, comprovando que a natureza, os homens e os animais esperam pela bom senso dos ainda humanos.

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Cláudio Pissolito

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