Nesse mundão em que o tempo corre veloz, a memória anda como tartaruga. O esquecimento bate na janelinha da memória. Cuidado, amigos. Vejam o que ocorreu com esses desembargadores.
O nome do médico
Dois desembargadores aposentados, do alto de uma juventude acumulada durante oito décadas e meia, encontram-se no aniversário do neto de um deles. Os desembargadores Amaro Quintal da Rocha e Antônio Vidal de Queiroz, como sói acontecer com amigos que se conheceram no início da idade da razão, foram direto ao assunto que mais os motivava:
– Até que enfim, encontrei o médico que curou a minha amnésia, disse Amaro.
– Como é mesmo o nome dele? Perguntou Vidal.
– É, é, é, deixe-me ver, é… é… Como é mesmo o nome dele? Espere aí… é, é… é.
O nome, escondido num cantinho do cérebro, relutava em aparecer. Começou a se perturbar. Mas não deixou a onda abatê-lo.
– É, é, como se chama… é… é… como se chama mesmo aquela coisa vermelha, amarela, branca, que nasce em um galho cheio de espinhos, aquele assim? (e foi mostrando o tamanho do galho e o formato da coisa).
Vidal matou a charada:
– Rosa, o nome é Rosa.
Amaro, radiante, grita para a mulher que estava sentada logo adiante:
– Rosa, oh, Rosa, como é mesmo o nome daquele médico que curou a minha amnésia?
- Parte I – Detalhes de marketing
A rejeição
Rejeição a candidato é coisa séria. Não se apaga um índice de rejeição da noite para o dia. O maior adversário de muitos futuros candidatos a prefeito será a rejeição. Em um colégio eleitoral de cerca de 10 milhões de eleitores, mais de 25% do eleitorado paulista – 35 milhões de eleitores – a capital de São Paulo reúne o maior contingente eleitoral entre os 5.570 municípios brasileiros. A rejeição aqui será um fator impactante. Na última pesquisa Folha, Guilherme Boulos (PSOL, com apoio do PT) tem 34% de rejeição e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB, com apoio do PL de Bolsonaro), aparece com 26%. Tabata Amaral (PSB), também pré-candidata, aparece com 19%. Muito cuidado com a rejeição.
Presságio agourento
A rejeição é um presságio agourento, que pode derrubar qualquer candidato. Principalmente em uma campanha com tendência à polarização. Quando um candidato registra um índice de rejeição maior que a taxa de intenção de voto, é oportuno começar a providenciar a ambulância para entrar na UTI eleitoral. Caso contrário, morrerá logo nas primeiras semanas do segundo turno. A rejeição deve ser convenientemente analisada. Trata-se de uma predisposição negativa que o eleitor adquire e conserva em relação a determinados perfis.
A fisiologia da consciência
Para compreendê-la melhor, há de se verificar a intensidade da rejeição dentro da fisiologia de consciência do eleitorado. O processo de conscientização leva em consideração um estado de vigília do córtex cerebral, comandado pelo centro regulador da base do cérebro e, ainda, a presença de um conjunto de lembranças (engramas) ligadas à sensibilidade e integradas à imagem do nosso corpo (imagem do EU), e lembranças perpetuamente evocadas por nossas sensações atuais. Ou seja, a equação aceitação/rejeição se fundamenta na reação emotiva de interesse/desinteresse, simpatia/antipatia. Pavlov se referia a isso como reflexo de orientação.
Fator variável
O fenômeno varia de candidato para candidato. Paulo Maluf, por exemplo, sempre teve altos índices de rejeição em São Paulo, mas passou a administrar o fenômeno depois de muito esforço. Mudou comportamentos e atitudes. Tornou-se menos arrogante, o nariz levemente arrebitado desceu para uma posição de humildade e começou a conversar humildemente com todos, apesar de não ter conseguido alterar aquela antipática entonação de voz anasalada. Os erros e as rejeições dos adversários também contribuíram para atenuar a predisposição negativa contra ele. Purgou-se, também, pelos pecados mortais dos outros. Ruim por ruim, vou votar nele, pensam seus contingentes eleitorais.
A velha política
Em regiões administradas pela velha política, a rejeição a determinados candidatos se soma à antipatia ao familismo e ao grupismo. O eleitor quer se libertar das candidaturas impostas ou hereditárias. Mas não se pense que o caciquismo se restringe a grupos familiares. Certos perfis, mesmo não integrantes de grandes famílias políticas, passam a imagem de antipatia, seja pela arrogância pessoal, seja pelo estilo de fazer política, ou pelo oportunismo que suas candidaturas sugerem. Em quase todas as regiões, há altos índices de rejeição, comprovando que os eleitores, cada vez mais racionais e críticos, estão querendo passar uma borracha nos domínios perpetuados.
Ir ao fundo
A rejeição até pode ser diminuída, quando o candidato, indo ao fundo nas causas profundas que maltratam a candidatura, enfrenta o problema sem tergiversação ou firulas. Pesquisas qualitativas, com representantes de todas as classes sociais, indicam as causas. Aparecerão questões de variados tipos: atitudes pessoais, jeito de encarar o eleitor, oportunismo, mandonismo familiar, valores como orgulho, vaidade, arrogância, desleixo nas conversas, cooptação pelo poder econômico, história política negativa, envolvimento em escândalos, ausência de boas propostas, descompromisso com as demandas da sociedade. Para enfrentar alguns desses problemas o candidato há de comer muita grama.
Ajustar a identidade
Não se diminui a rejeição de uma hora para outra. Ao contrário, quando o candidato demonstra muita pressa para diminuir a rejeição, essa atitude passará a ser percebida pelo conjunto de eleitores mais críticos, que é exatamente o grupamento mais afeito à rejeição. E aí ocorre um bumerangue, ou seja, a ação se volta contra o próprio candidato, aumentando ainda mais a predisposição negativa contra ele. Trabalhar com a verdade, eis um ponto-chave para administrar a taxa de rejeição. O eleitor distingue factoides de fatos políticos, boas intenções de más intenções, propostas sérias de ideias enganosas. O candidato há de montar no cavalo da própria identidade, melhorando as habilidades e procurando atenuar os pontos negativos.
Equilíbrio
É erro querer mudar de imagem por completo, passar uma borracha no passado e cosmetizar em demasia o presente. Mas é também grave erro persistir nos velhos hábitos. Mudar na medida do equilíbrio. Mudar sem riscos. Inovar é preciso. De maneira gradual. Urge ter cuidado com mudanças constantes e bruscas, de acordo com a sabedoria da velha lição: não ganha força a planta frequentemente transplantada.
- Parte II
Raspando o tacho
O caso Petrobras: Tem mosca na sopa.
– Por trás das matérias que mostram queda no valor da Petrobras no mercado, há um acervo de fatos positivos, que não têm merecido o devido destaque.
– O Lucro líquido de 2023 = R$ 124,6 bi – ~ USD 25 bi, é maior que as multinacionais globais TotalEnergies (Fr) e Chevron (EUA). É o terceiro maior lucro dentre as grandes empresas de petróleo, atrás apenas de Exxon e Shell que são maiores e mais espalhadas pelo mundo.
– No cenário em que o preço do barril (Brent) caiu 18% e o crack/diesel caiu 23%, a Petrobras conseguiu bater 13 recordes operacionais incluindo maior produção de diesel S10, maior uso da capacidade de refino e maior processamento de gás da história da empresa dentre outros recordes em produção, refino, engenharia, gás, redução de emissões, patentes, diesel, logística etc.
– Já no cenário de preços internacionais voláteis e altos, a empresa conseguiu contribuir para dar mais estabilidade aos preços e reduzir o custo da gasolina A (na porta da refinaria, antes da adição de etanol anidro) em mais de 14% e o do diesel-A (porta da refinaria, antes da adição de biodiesel) em quase 30% (28,6%). O querosene de aviação e o botijão de gás igualmente apresentaram redução na porta das refinarias da Petrobras.
– A dívida financeira da Petrobras foi reduzida em mais de 6 bilhões de reais, com o ganho de mais de 112% de retorno total das ações preferenciais em NY (em dólar) – valor muito superior ao maior retorno das maiores (que foi de 20%).
– Quanto aos dividendos, cumpriu-se a regra de distribuição de dividendos mínimos de 45% do fluxo de caixa livre, e o Conselho de Administração votou pela retenção de 100% dos dividendos extraordinários numa conta que só pode ser usada para remuneração de acionistas, ou seja, apenas diferiu sua distribuição no tempo. O total de dividendos distribuídos referentes a 2023, por enquanto, ultrapassa 72 bilhões de reais (bem abaixo dos 222 bilhões do último ano de Bolsonaro, quando a intenção era claramente esvaziar a empresa e vender seus ativos e pulverizar seu capital).
– A Petrobras está em linha com as empresas congêneres, distribuindo na média o que as empresas globais semelhantes também distribuem.
– Por que, então, tanta carga negativa? Interesse político, meus caros.
– As críticas à gestão carregam um viés político. Há sintonia fina entre a direção da empresa e o Palácio do Planalto. Jean-Paul Prates conta com o endosso de Lula. Que vê “choradeira” do mercado. Detecta-se. inclusive, fogo amigo. Uns tiros deflagrados pelo próprio PT. Afora, os tiros do Ministério de Minas e Energia.
Avaliação do governo
– O próprio Lula reconhece que o governo ainda não entregou o que prometeu. Daí a queda na avaliação da administração.
– São Paulo, capital, é o maior polo crítico da administração lulista.
– A lua de mel entre Lula e a comunidade política chega ao fim. Agora, as massas querem ver resultados.
– A continuar seu crescimento, daqui a pouco, Ricardo Nunes ultrapassará Guilherme Boulos em São Paulo.
– Este analista enxerga muito estardalhaço no episódio da foto manipulada pela princesa de Gales, Kate Middleton. Muito barulho por nada. Uma simples foto para mostrar a família.
– Bolsonaro até que apreciaria aumentar o seu “índice de vitimização”. A prisão calharia bem nesse momento.
– A deputada Federal Rosângela Moro saiu do Paraná, onde mora, para São Paulo, onde se elegeu. Ante a possibilidade de cassação do marido, senador Sérgio Moro, por abuso do poder econômico, quer voltar a ter domicílio eleitoral no Paraná. E se candidatar ao Senado e ocupar o lugar do marido. Um deboche. A lei eleitoral até abre essa chance. Convenhamos, um deboche.
– Arthur Lira, presidente da Câmara, assume, a cada dia, a postura de um primeiro-ministro. Só mesmo nesse parlamentarismo à brasileira.
– As guerras na Ucrânia/Rússia e na faixa de Gaza/Israel/Hamas não dão sinais de arrefecimento.
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Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.
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A coluna Porandubas Políticas, integrante do site Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada pelo respeitado jornalista Gaudêncio Torquato, e atualizada semanalmente com as mais exclusivas informações do cenário político nacional.