Abro esta parte com duas historinhas, uma, de hoje, outra, de ontem.
É de chorar…
“Tio Paulo” tem sede
No Rio de Janeiro, no bairro de Bangu, uma cena que traduz a miséria humana. Uma senhora, Erika de Souza, 42 anos, leva seu tio, Paulo Roberto Braga, 68 anos, a uma agência bancária, numa cadeira de rodas. Pegam um táxi. O tio morre no trajeto. Mas a mulher não se incomoda. Quer por quê quer ir ao banco com o “tio Paulo”, com o fito de sacar R$ 17 mil de um empréstimo. Na cadeira de rodas, “tio Paulo”, de cabeça pendendo para um lado, é posto ereto. A “sobrinha” chega a dar água ao tio. Não só: pega a mão do morto, tentando fazer com que seus dedos assinassem o documento do empréstimo. P.S. A mulher tem problemas psiquiátricos, segundo laudos.
Cena brasileira de hoje.
Para rir
Você quer saber mais do que o doutor?
O caso deu-se em São Bento do Una/PE, nos idos de 60. O caminhão, entupido de gente, voltava de um jogo de futebol, corria muito, virou na curva da estrada. Foram todos para o hospital. Uma dúzia de mortos. Lívio Valença, médico e deputado estadual do MDB, foi chamado às pressas. Pegou a carona de um cabo eleitoral, entrou na sala de emergência do hospital e foi examinando os corpos:
– Este está morto.
Examinava outro:
– Este também está morto.
O cabo eleitoral se empolgava:
– Já está até frio.
De um em um, passaram de 10. Lá para o fim, Dr. Lívio examinou, reexaminou, decretou:
– Mais um morto.
O morto gritou:
– Não estou morto não, doutor, estou só arrebentado.
O cabo eleitoral botou a mão na cabeça dele:
– Cala a boca, rapaz. Quer saber mais do que o dr. Lívio?
Cena brasileira de ontem.
- Parte I – O Brasil visto de cima – Observações à distância
O Judiciário sai de órbita
O Judiciário vive uma crise de identidade. O STF tem adentrado na seara legislativa. Sai de sua órbita. O prestígio da Alta Corte despenca. Ministros têm agido de maneira monocrática. Vanitas vanitatum et omnia vanitas (vaidade das vaidades, tudo é vaidade). A bússola judiciária está com os pêndulos girando loucamente. Cada magistrado é uma ilha de poderes. Desajustados.
Legislativo, cadê o eixo?
O Poder Legislativo, por sua vez, também parece estar à procura de um eixo. Os representantes agem ao sabor das pautas organizadas pelos presidentes das duas casas legislativas, vencendo ondas e tormentas, correndo ao balcão de recompensas e deixando de olhar para as prioridades. O Legislativo quer se livrar da influência do Executivo, mas acaba se rendendo ao poder do dinheiro. As emendas abocanham recursos e mais recursos.
Executivo no meio da tempestade
O Poder Executivo é um transatlântico no meio da tempestade. O piloto-mor, Luis Inácio, tenta sair da tormenta. Pede mais empenho de seus ajudantes, ministros e assessores. Chega a puxar a orelha até do seu vice-piloto-mor, Geraldo Alckmin, de quem cobra mais agilidade. Do ministro Fernando Haddad, pivô da economia, pede que em vez de ler mais um livro se dedique a conversar com deputados e senadores. Pasmem! É o Brasil, onde a autoridade máxima recomenda fechar livros. E substituí-los por tatibitate. E como está a temperatura do governo? P.S. E o que aconteceria se Haddad pedisse para Lula ler um livro…?
Orquestra cansada
A temperatura política beira os 40º C. O governo III de Lula nem chegou ao meio do mandato e dá sinais de cansaço. Pernas compridas e pesadas. Cabeça de elefante. Afinal, são 38 ministérios. Não é uma orquestra que exiba harmonia nos tambores, instrumentos de corda e metais. Os trombones e bumbos, ministérios maiores, fazem ruídos, mas parecem descontrolados. As flautas? Entupidas. Os violinos, com performances desajustadas. Toda hora, o maestro suspende os ensaios e tenta eternos recomeços. Ouvem-se resmungos dos músicos da frente, do meio e da ala de trás cobrando maior presença do maestro nos palcos do Legislativo.
Classe média
Lula quer atrair a classe média, a mais poderosa da pirâmide social. Vai propiciar acesso a recursos aos microempreendedores e pequenas e médias empresas. Foco: ajudar o empreendimento com faturamento de até R$ 400 mil, outros, de até R$ 4 milhões. Se conquistar esse rolo compressor, subirá no ranking da avaliação. Os contingentes médios estão na espia do governo. Desconfiados. As classes médias são a maior barreira na trajetória do Lula III.
Economia e emprego
No tabuleiro da economia, o governo tem boas coisas para entregar. A pobreza diminui, as margens contam com algum dinheiro no bolso e o desemprego cai. Renda e emprego vão bem. Mas os ruídos no campo político e a Torre de Babel em que se tornou o planeta governamental canibalizam os feitos. As coisas ruins empanam as coisas boas. E a comunicação do governo é destrambelhada. Apesar dos esforços do ministro Paulo Pimenta.
Segurança
Na área da segurança, a coisa pega mal. O ministro Lewandowski, da Justiça, prega a adoção do SUS da Segurança, um sistema de articulação e intercâmbio de informações entre União, Estados e municípios. Boa proposta, mas leva tempo para se implantar. Mais de 2.200 casos de violência no campo. O abril vermelho do MST registra invasões em 18 Estados. A mobilização envolve cerca de 30 mil famílias. O Brasil se assemelha a uma gigantesca delegacia de polícia. A conflituosidade campeia intra e extra muros de cárceres abarrotados.
Saúde
Na área da saúde, a defasagem de dados e ações começa com a falta de vacinas. Há desarticulação entre União, Estados e municípios. Milhões de vacinas são incineradas. Tempo vencido de aplicação. Um caos. Queixam-se da falta, queimam-se as sobras. Só mesmo no Brasil. Os equipamentos dos estabelecimentos hospitalares precisam de remendos. As filas para cirurgias no SUS ultrapassam a casa dos milhões. Socorro!
Educação
O ensino de base procura um caminho. Os exames exibem descontroles e falta de adequada informação. O ministro Camilo Santana, ex-governador do CE, ainda não conseguiu inserir a educação no pódio da qualidade, como tem sido considerada a educação no Estado do Ceará, terra do ministro. As universidades Federais, quase em sua totalidade, estão em greve.
Relações com o Congresso
As relações com o Congresso estão bagunçadas. Muitos articuladores, dispersão e linguagem da Torre de Babel.
Plano pessoal
Lula parece mais maduro (duplo sentido…rs). Considera-se um governante que passou pelos mais difíceis vestibulares. Quer ser admirado mundo a fora. Mas o humor continua a aparecer na forma de cobrança a ministros. Quer pressa. As eleições estão à vista. E luta para exibir resultados. Outubro, eleições municipais. 2025, ano do tudo ou nada. 2026, reeleição. Ou indicação de Fernando Haddad, se a economia der certo.
A grandeza de uma Nação
O que faz a grandeza de uma Nação? O historiador Edward Gibbon, em Declínio e Queda do Império Romano, sintetiza respostas, quando aponta a tríade de fatores responsáveis pelo progresso da sociedade: a imaginação dos pensadores; os benefícios das leis, da política, do comércio, das manufaturas, das artes e das ciências; e a capacidade operativa de homens comuns, famílias, e cidades dedicadas aos ofícios mecânicos, ao cultivo da terra, ao uso do fogo e dos metais, enfim, à prática dos mais variados e utilitários serviços cotidianos.
- Parte II
A campanha eleitoral
Não é difícil antecipar o que os candidatos geralmente expressam em uma campanha. Alguns tipos de discursos:
Miséria e fome – Aqui, os candidatos procurarão despejar mensagens sobre as condições sociais das regiões.
Ética e bons costumes – A corrupção ainda campeia. Será necessário resgatar a base ética da política.
Renovação – As caras novas que desejam se consagrar jogam sujeira nas caras velhas, pintando-as com as tintas da maldade e do atraso. Aparecem como bons moços, figuras exemplares, de vida ilibada e comprometidas com os ideais de renovação política.
Acusação – Candidatos de oposição estragarão a festa dos situacionistas, exibindo mazelas da administração, a desestrutura das prefeituras, a falência de programas de saúde, habitação, educação. Pedirão aos eleitores atirar pedras nos candidatos situacionistas.
Vitimização – Muitos se refugiarão no discurso da vitimização. Mulheres candidatas dirão ser discriminadas, pois a sociedade machista não aceita sua condição de igualdade.
Glorificação – Outros olharão para espelhos e se verão como um Narciso glorioso, belo, grande e forte. Fazem boas administrações e exigem que seus correligionários reconheçam seus méritos. Abraçarão, comovidos, plateias acostumadas com seus trejeitos.
Diferenciação – Alguns marcarão presença por algum elemento de diferenciação: uma vida dedicada aos pobres; um traço físico característico, que atraia simpatia e interesse; um eixo particular de discurso, capaz de agarrar eleitores sensíveis.
Obreirismo faraônico – Muitos usarão retórica da grandiosidade faraônica, para prometer obras de impacto: viadutos, estradas, empreendimentos de impacto.
Mesmice programática – Esse filão é um dos mais volumosos. Os candidatos desfilarão soluções para os programas de saúde, educação, saneamento básico, etc.
Vida vitoriosa – Quem teve uma vida de vitórias, certamente vai procurar mostrá-la. Aqui, os candidatos vão dizer que sempre foram vitoriosos, e que a estrela está sempre presente em sua testa.
- Parte III – O mundo visto de cima
Guerras
O mundo registra grandes conflitos. Na segunda metade do século XXI, o relógio do fim do mundo andou um pouco na direção da meia noite. A guerra Rússia x Ucrânia irá longe. As mortes programadas terão continuidade, mostrando a ineficiência da ONU. As grandes nações parecem conformadas. A União Europeia e os EUA deverão também aprovar medidas de apoio à Ucrânia.
IA
A inteligência artificial dará as cartas nos próximos tempos, trabalhando celeremente nas estruturas privadas e públicas. Melhorando as equações, arrumando conteúdos melhores, revolucionando os meios de gestão. O risco: ganhar condições para uma vida própria, deixando de lado a ação humana. A Humanidade a seus pés.
Biden x Trump
Trump teria orquestrado esquema criminoso para influenciar eleições presidenciais dos EUA em 2016, diz promotoria em julgamento iniciado esta semana. O ex-presidente enfrenta 34 acusações. Será o primeiro processo criminal de um ex-presidente americano. Pano de fundo: os esforços do republicano bilionário para encobrir um escândalo sexual. Biden enfrenta o entorpecimento da idade mais avançada. Pesquisas mostram um empate técnico entre os dois.
Europa vai pra onde?
A direita finca o pé na Europa. O conservadorismo avança. Tempos cíclicos.
China na moita
A China, com seu capitalismo de Estado, ficará na moita, com um olho tentando enxergar os horizontes do ocidente, outro olho, mirando o plano interno e Estados parceiros, como a Rússia.
Meio ambiente
Tema central dos próximos tempos. Tempos de aniquilação do planeta. Controles mais rígidos. Natureza dando respostas amargas à devastação.
- Parte IV – Raspando o tacho
Flashes
– O que Alckmin sentiu quando Lula pediu a ele mais agilidade?
– Arthur Lira trabalha com afinco para fazer seu sucessor na presidência da Câmara. Eleição muito distante.
– Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, estará habilitado para concorrer ao governo de Minas Gerais.
– Ricardo Nunes, em São Paulo, lidera com pequena folga as pesquisas de intenção de voto.
– Sobe o tom crítico nas redes contra o ministro Alexandre de Moraes. Um destemido.
– Milei, na Argentina, começa a domar a inflação.
– Maduro continua posando com sua “democracia” com selo de ditadura.
– Bolsonaro, como maior líder da oposição, correrá o país para fazer sua pregação. Campanha municipal federalizada.
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Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.
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A coluna Porandubas Políticas, integrante do site Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada pelo respeitado jornalista Gaudêncio Torquato, e atualizada semanalmente com as mais exclusivas informações do cenário político nacional.