QUEM FALA DEMAIS… NÃO APRENDE O SILÊNCIO.

Nada incomoda tanto quanto o silêncio: questiona; provoca; desmonta… Nada é tão necessário quanto o silêncio: amadurece; implica; ensina… Perdemos a familiaridade com o silêncio.  Mas, uma coisa é certa: é preciso que algo se cale para que algo seja ouvido.

Silêncio Proibido. Pedestres apressados; esquinas tumultuadas; agência de correio; ecos de guerra… onde está o silêncio? Campainha do telefone; torrente de informações; rumor das máquinas; música de todos os lados; trepidação da vida… onde está o silêncio? Uma criança que chora; a mãe que grita; o vizinho que bate… onde está o silêncio? Calor excessivo; luz em demasia; densa fumaça; exagero de comida… onde está o silêncio? Diante de mim, rumor; atrás de mim rumor; em volta de mim, rumor ainda maior… onde está o silêncio? Mundo gasto; homem fatigado; criança prisioneira… silêncio proibido?

NÃO BASTA fazer parar a carroceria, é preciso que também o motor de dentro, cesse de girar a toda velocidade. Talvez, o fato de vivermos sempre em fuga, nos leve à constante agitação e ruído. Somos uma geração de fugidios. E o mais grave é que fugimos de nós mesmos…

O deserto e as escadas. No deserto o vento soprava e nada o detinha. As colinas rochosas que se projetavam no horizonte, erguiam-se muito unidas como pregas de um manto, formando cumes de granito sem prumo. E o sol se escondia…

Nos degraus destas escadarias as pessoas subiam e desciam. Pelas portas mecânicas, muita gente entrava, se acotovelava, passava. E, a multidão anônima se cruzava. O vento soprava, mas o deserto era o mesmo. Já era tarde quando o sol se escondia…

De pé sobre as colinas, ou caminhando no chão duro das escadas, a mesma pergunta, como um raio de sol, como um raio de neon: “Quem somos nós? Que estamos fazendo aqui? Quem são esses homens, voluntariamente destituídos de tudo? Por que eles vivem? Por que eles reza? O que buscam e para que servem? Onde encontram forças para sorrir? E essas multidões compactas que circulam rapidamente, no que pensam? Como têm o ar ausente essas pessoas que deslizam no vai e vem das escadas… e eu? Por quem sou habitado?”

Assim, no deserto e no ruído, o silêncio surge. Inesperadamente tu te perguntas: “quem és, que fazes, aonde vais?”

NOSSAS CORRERIAS nos tornam surdos aos apelos mais profundos de nós mesmos. E, enquanto achamos que estamos fazendo o que queremos, somos deveras prisioneiros do nosso indiferentismo. Quem é mau para si mesmo, com quem será bom? Não há ninguém pior do que aquele que maltrata a si mesmo. Somente no silêncio a verdade de cada um se entrelaça e cria raízes.

Silêncio Absoluto. Passaram-se as horas, o sol fechou seus olhos e o volume de estrelas apontava para uma noite pontilhada de luz. Estirei-me sobre a relva do prado e deixei que meus olhos vagabundeassem pela Via Láctea, perdessem-se nessa imensidão, nessa planície às avessas. E, na minha cabeça as palavras caíram, uma a uma. Nada mais havia a dizer, nada mais… frase alguma.

As fórmulas eram demais, os sentimentos também. E tudo era excessivo, exceto esse silêncio que me arrastava para a intimidade do seu mistério. Ao acolher esse companheiro, compreendi uma linguagem desconhecida, e não era capaz de dizer quando, onde, como, então, por quê.

Via-me superado. E, por um instante, por um instante apenas, pude pressentir o infinito nas coisas incompletas. Eu era esse ser inacabado, feliz por ser superado por um tão grande infinito, por um silêncio que não é vazio, por uma intensa comunicação sem palavras.

NO BARULHO me procurei, mas foi no silêncio que me encontrei.

Se quiser fazer a fecunda experiência do silêncio, não se intimide. Busque! Você encontrará a si mesmo e a Deus. Leia: 1Reis 19,1-13.

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Cláudio Pissolito

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