República do narcotráfico

A Proclamação da República, acontecida em 1889, que para muitos historiados não passou de mais um golpe das Forças Armadas contra a jovem Monarquia brasileira, instalada em 1808, tem sua data no calendário de feriados nacionais como fato relevante da história do país.

Mesmo que a maioria da população desconheça o motivo do feriado e grande parte dos estudantes não conheçam a história em seus detalhes, e muito menos por meio da análise crítica, que de fato ensina a pensar e a ponderar, ainda existem resquícios de comemoração nos setores mais retrógrados da República Nacional.

Considerando que o evento Proclamação da República foi resultado de uma mobilização contra a família real portuguesa, que reuniu militares, a igreja e grandes proprietários rurais escravocratas, revoltados contra as iniciativas abolicionistas da Coroa Brasileira, comprova-se que, mais uma vez, a mudança se deu pelos interesses das elites brasileiras e portuguesas.

Exatamente as mesmas elites que dominam a política nacional desde então e, que, mesmo com poderes sobre a nação mais rica do planeta em recursos naturais, suficiente para tornar-se potência mundial, permanece como de terceiro mundo, cada vez mais dominada pela pobreza, o crime e o narcotráfico.

“…desavisados que se consideram elites, mesmo amedrontados e reféns da criminalidade…”

Fatos vergonhosos recentes como a identificação da máfia da justiça de segundo grau, cujos juízes vendem sentenças, do domínio de grande parte da população pelas milícias, formadas por policiais e ex-policiais, da entrada legalizada do crime organizado no Estado, controlando empresas que prestam serviços públicos essenciais, são exemplos confirmatórios do descalabro a que estamos sujeitos.

Entretanto, os falsos patriotas, os moralistas do interesse próprio e os desavisados que se consideram elites, mesmo amedrontados e reféns da criminalidade, ainda se orgulham desta data.

O conceito de República, que necessariamente passa pelo valor da democracia, e do termo republicano, elevado à condição de sinônimo de valores e princípios morais, mostram-se cada vez mais distantes da realidade vivida pela grande maioria dos brasileiros.

Afinal, com mais de 80 organizações criminosas ativas, cerca de 40% da população em estado de pobreza ou vivendo em favelas, a maior população carcerária do mundo e campeões em desmandos e corrupção, é preciso haver consciência de que vivemos na república da bandalheira, do crime e do narcotráfico.

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Cláudio Pissolito

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