“Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam” (At 2,1-2).
Pentecostes, para a Igreja nascente dos primeiros séculos e de agora, é a revolução de fé e de vida capaz de mostrar outros horizontes, de fazer sonhar acordado, de mudar a mentalidade, de agir sob outros critérios, de dar passos noutra direção, de cultivar o amor, pensar com o coração, de querer outro sentido para vida, enfim, de viver em Deus com os irmãos. Ajuda-nos a refletir sobre isso, um belíssimo texto de São Cirilo de Alexandria, comentando o evangelho de João. É um texto do Século V.
“Cristo tinha cumprido a sua missão sobre a terra, e para nós havia chegado o momento de entrarmos em comunhão com a natureza divina do Verbo. Era preciso que: a nossa ‘vida anterior’ fosse transformada em outra diferente, começando um novo estilo de vida em santidade. Ora, isto só podia ser realizado pela participação do Espírito Santo.
O tempo mais oportuno para o envio do Espírito Santo e sua descida sobre nós foi o que se seguiu à ascensão de Cristo nosso Salvador.
De fato; enquanto Cristo vivia visivelmente entre os seus fiéis, ele mesmo, segundo julgo, dispensava-lhes todos bens. Mas quando chegou o momento estabelecido para subir ao Pai celeste, era necessário que ele continuasse presente no meio de seus fiéis por meio do Espírito e habitasse pela fé em nossos corações, a fim de que pudéssemos clamar com toda confiança: Aba – ó Pai! (Rm 8,15). E ainda nos tomássemos capazes de progredir sem demora no caminho da perfeição, superando com fortaleza invencível as ciladas do demônio e as perseguições dos homens, graças à assistência do Espírito todo-poderoso.
Não é difícil demonstrar, com o testemunho das Escrituras, tanto do Antigo como do Novo Testamento, que Espírito transforma e comunica uma vida nova àqueles em quem habita.
O servo de Deus Samuel, dirigindo-se a Saul, diz: O Espírito do Senhor virá sobre ti e tu te tomarás outro homem (l Sm 10,6). E São Paulo afirma: Todos nós, porém, com o rosto descoberto, contemplamos e refletimos a glória do Senhor; e assim seremos transformados à sua imagem, pelo seu Espírito. Pois o Senhor é Espírito (2Cor 3,18.17).
Vês como o Espírito transforma noutra imagem aqueles em quem habita? Facilmente ele os faz passar do amor das coisas terrenas à esperança das realidades celestes, e do temor e da indecisão à firme e generosa fortaleza de alma. Foi o que sucedeu com os discípulos: animados e fortalecidos pelo espírito, nunca mais se deixaram intimidar pelos seus perseguidores, permanecendo inseparavelmente unidos e fiéis ao amor de Cristo.
É verdade, portanto, o que diz o Salvador: É bom para vós que eu volte para os céus (Jo 16,7), porque tinha chegado o tempo de o Espírito Santo ‘descer’ sobre eles.”
Olhando para este texto belíssimo escrito do século V, nos damos conta de que a fé é viva e nos interpela ao novo, o tempo todo. Nós precisamos de um novo pentecostes cada dia. Um novo pentecostes sim, mas, não como uma recordação simbólica de um acontecimento do passado. Precisamos de um novo pentecostes segundo o coração de Deus e com um sentido diário de presença numa “vida segundo o Espírito de Deus’.”
Que o Senhor nos permita muitos Pentecostes neste Pentecostes!