Sem água e sem ar

A grande ameaça anunciada há décadas pelos ambientalistas e cientistas, sempre taxados de malucos e alarmistas, está se concretizando com efeitos nefastos sobre a água, o ar, a agricultura, a economia e, principalmente, na saúde humana comprometida pelas doenças alérgicas e respiratórias.

Hoje, até numa pequena cidade do interior da floresta amazônica os bebês já nascem respirando fumaça contaminada por monóxido de carbono e metais pesados, ganhando precocemente tatuagens negras em seus frágeis pulmões, o que representa e denuncia o descaso continuado para com o meio ambiente.

Enquanto o país arde em chamas, falta água potável para consumo humano e o ar quente e poluído se espalha para todas as fronteiras, as campanhas políticas discutem mais asfalto, mais obras, mais indústrias e mais ocupação dos espaços, sem sequer citar os meios que serão usados para romper o ciclo vicioso do progresso insano e devastador.

Nos programas de governo dos candidatos não são citados projetos para melhoria da qualidade da água, do ar e muito menos para a reposição dos estoques do subsolo, que garantem a saúde e a vida das pessoas, pois na próxima chuva todos terão esquecido os males que se acumulam.

“…na próxima chuva todos terão esquecido os males que se acumulam.”

Em vez de criar dispositivos para infiltração das águas pluviais para alimentar os lençóis freáticos que abastecem os poços artesianos, para garantir água às pessoas, o que se faz é impermeabilizar o solo e construir galerias para levar as águas para os riachos quase mortos de poluição e assoreamento.

No lugar de cuidar das nascentes, de aumentar a mata ciliar e arborizar a cidade e as margens das estradas rurais, abrem-se novos loteamentos próximos às cabeceiras, plantam-se dentro do leito das vicinais e cortam-se as árvores para evitar as folhas no chão ou pelo capricho de mostrar painéis publicitários.

Nos últimos 30 anos de circulação do JC, este espaço de opinião trouxe número incalculável de textos clamando pela mudança na forma de construir, de plantar, de produzir e de desenvolver as cidades, muitas vezes considerado como inconveniente ou simplesmente ignorado nas sugestões.

A regra mantida é de apostar no desenvolvimento sem planejamento, na ocupação de todos os espaços para alcançar efeitos momentâneos, que surtem muito mais resultado político do que os projetos de longo prazo que, de forma mais inteligente, prevê e protege o futuro para que não falte água e ar para beber e respirar.

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Cláudio Pissolito

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