Itaí tem mais de 27 mil habitantes e registrou 160 mortes até outubro deste ano, média de 16 óbitos por mês. Mortes no acidente em Taguaí é equivalente a quase 25% dos óbitos registrados até outubro na cidade.
Das 41 pessoas mortas no acidente entre um ônibus e um caminhão na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, em Taguaí (SP), 39 eram moradores de Itaí, município paulista com pouco mais de 27 mil habitantes.
Os passageiros usavam o transporte para ir até a empresa de confecção onde trabalhavam.
A dimensão da tragédia para a pequena cidade fica evidente pelo registro de mortes até outubro: as vítimas equivalem a 25% das 160 mortes confirmadas nos 10 primeiros meses de 2020, considerando todas as causas, segundo a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen-SP). (Veja quem são as vítimas.)

Em média foram 16 óbitos registrados por mês neste ano, até outubro. As mortes causadas pelo acidente representam mais do que o dobro da média mensal.
O acidente que deixou a cidade em luto é considerado o maior das rodovias estaduais de São Paulo nos últimos 22 anos, segundo o Comando de Policiamento Rodoviário da PM do estado.
Registro de mortes em Itaí em 2020
Janeiro | Fevereiro | Março | Abril | Maio | Junho | Julho | Agosto | Setembro | Outubro | Total |
11 | 14 | 13 | 16 | 14 | 18 | 20 | 17 | 17 | 20 | 160 |
Fonte: Arpen-SP
Após o trabalho da perícia no local do acidente, os corpos foram levados ao IML de Avaré. No fim da tarde de quarta-feira, eles começaram a chegar aos ginásios de Itaí para serem velados.
Uma das sobreviventes do acidente, Sônia Lobo Pacheco velou lado a lado a mãe, de 48 anos, e o marido, de 25. A costureira, que seguia para o trabalho na empresa Stattus Jeans junto com o grupo de Itaí, tenta encontrar forças para superar o terror vivido no acidente.
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Sônia perdeu mãe e marido no acidente em Taguaí — Foto: Reprodução https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
“Só acordei e tinha tudo acontecido já. Aí eu olhei para a frente, meu esposo estava caído, ele me protegeu. Eu sei disso porque as moças que sobreviveram também, que estavam na minha frente, e falaram que ele deu a vida por mim. Foi a pior cena da minha vida até hoje, sendo que tirou a vida do meu marido, da minha mãe”, diz.
Elian Marcos também foi um dos sobreviventes. O passageiro do ônibus saiu quase que ileso, apenas algumas escoriações, da tragédia que matou muitos amigos.
“Eu lembro de tudo. Lembro que antes de chegar neste local, mais ou menos a 1,5 km, eu estava dormindo no ônibus. Eu acordei, e nisso era uma curva que não dava para ver bem. Vi que tinha um ônibus e um caminhão muito devagar na frente. Não sei se falhou o freio, mas chegou muito perto do caminhão, que estava devagar, e o motorista tirou o ônibus. Nisso veio a carreta na pista contrária”, descreve o que lembra do acidente.
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As prefeituras de Itaí e Taguaí decretaram luto por três dias. Até a manhã desta sexta-feira (27), cinco pessoas permaneciam internadas. A maioria das 41 vítimas foi velada em ginásios de Itaí e enterradas no cemitério da cidade.
Investigação
Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Polícia Civil estão investigando a causa do acidente. O MPT entrou com uma representação contra a empresa Stattus Jeans Indústria e Comércio Ltda, onde as vítimas de Itaí trabalhavam, e a Star Fretamento e Locação Eireli – EPP, dona do ônibus envolvido no acidente. O MPT quer saber sobre a responsabilidade das empresas no acidente.
Os indícios da investigação apontam que o ônibus invadiu a pista contrária. Camila Rosa Alves, delegada titular da Polícia Civil de Taquarituba (SP), responsável pela investigação, disse que a polícia tem duas linhas de investigação: falha nos freios ou tentativa de ultrapassagem em local proibido.
“Os policiais se anteciparam e colheram as versões de forma informal. No local dos fatos era muito evidente que o ônibus havia invadido a contramão. O que causou isso é o que nós estamos querendo apurar e é o que vai levar a responsabilização criminal dessas mais de 40 mortes”, explicou a delegada.
O ônibus não tinha autorização da Artesp para circular e estava com documentos irregulares.
Hipótese de falha nos freios
O motorista do ônibus alegou, de acordo com a delegada, que seguia na pista quando se deparou com um outro veículo, possivelmente um caminhão, que estava mais devagar.
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Ao tentar diminuir a velocidade, percebeu que os freios do veículo não funcionavam e, para evitar uma colisão, invadiu a pista contrária. Neste momento, foi atingido pelo caminhão bitrem carregado com esterco.
A versão apresentada pelo motorista foi confirmada por um dos passageiros do ônibus que sobreviveu. Elian Marcos contou que viu um caminhão na pista.
“Nosso ônibus estava indo e não sei se falhou o freio quando chegou perto desse que estava muito devagar. O motorista tirou [o veículo da pista] e nisso veio a carreta contra”, relatou.
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Já outra possível versão, colhida com base no relato do sobrevivente do caminhão, é de que o ônibus teria invadido a pista contrária durante uma ultrapassagem. O caminhoneiro não teria conseguido frear a tempo e jogou o veículo para o acostamento. O caminhão do tipo bitrem (com capacidade maior de carga), que carregava esterco, invadiu uma propriedade rural. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
O motorista do veículo chegou a ser levado ao pronto-socorro de Fartura, mas morreu na unidade.
A companheira do caminhoneiro informou que ele não tinha habilitação para dirigir caminhão, tinha apenas habilitação provisória para carro e, por isso, levava outro caminhoneiro junto nas viagens.
“Com a colisão uma parte da carroceria do caminhão se desprendeu, foi para o lado do ônibus. Ela ocasionou um grave dano na lateral do ônibus e infelizmente levando a óbito tantas pessoas. Foram arrancados bancos, vítimas com membros decepados, vítimas machucadas”, diz Daniel Aparecido Demétrio, capitão da Polícia Militar.
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A Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho é pista simples, não tem pedágios e não são comuns acidentes parecidos no local, segundo a Polícia Militar Rodoviária de Itapeva. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
O que dizem os envolvidos
A empresa de ônibus Star Viagem e Turismo, que levava os trabalhadores da empresa Stattus Jeans, não tinha autorização para operar e funcionava de forma clandestina, segundo a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).
A empresa já foi multada várias vezes e era considerada clandestina pelo órgão fiscalizador.
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Em nota à imprensa, a empresa negou irregularidades. “Toda a documentação relativa ao veículo envolvido no trágico acidente está em conformidade com os órgãos governamentais e em perfeita validade”, afirmou.
O advogado Emerson Rodrigues, responsável pelo setor jurídico da Stattus Jeans, disse que a empresa de ônibus era contratada pelos funcionários que recebem vale-transporte. Ele não comentou sobre as condições de segurança do veículo.
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Fonte: G1