“…liberdade individual muito mais abrangente e, consequentemente, muito mais perigosa…”
O advento das redes sociais da internet, que garante a democratização da informação e a facilidade de comunicação, também conferiu poderes a todos que se dispõem a transmitir informações, replicar notícias e a expressar pensamentos e opiniões.
Esse acesso tornou a liberdade individual muito mais abrangente e, consequentemente, muito mais perigosa pelo risco de mau uso ou pela inabilidade de se manifestar publicamente, como acontece em cada postagem.
O que antes era discutido entre poucos, conhecidos e conhecedores das características individuais, agora extrapola os limites da casa, da roda de amigos e da mesa do bar.
Uma particularidade do uso das redes é a expressão mais crítica e severa, as vezes desprovida de fundamento, baseada apenas em achismos ou comentários maledicentes que passam a circular e se transformam em verdades apenas pela sua replicação, nunca pela checagem da própria fonte ou do alvo, quase sempre alheio aos fatos e sem direito à defesa.
Assim acontecem os chamados “cancelamentos”, pelos quais meia dúzia de interessados ou desinformados induzem multidões a acreditar em acusações falsas ou exageradas sobre fatos e acontecimentos relacionados à vítima transformada em réu no tribunal informal digital.
Os que mais confundem a maioria de inocentes e crédulos que frequentam as redes sociais são os políticos e seus asseclas especializados em desconstruir reputações e que produzem e disseminam notícias falsas para atingir adversários e valorizar suas poucas ou inexistentes virtudes.
Entretanto, os anônimos, quase sempre figuras conhecidas do meio social e comunitário pela índole divergente, agressiva ou inconformada, também cumprem o papel de detratores públicos de suas vítimas ao confundir as redes sociais com a porta da casa ou a conversa maldosa ao telefone cuja finalidade é alimentar o egocentrismo dos interlocutores.
Já no fim da vida, um dos maiores intelectuais do nosso tempo, o italiano Umberto Eco, fez uma espécie de previsão sobre as redes sociais em discurso em uma universidade de Turim, em 2015, citando-as como promovedoras do “Idiota da Aldeia”, em sua última análise sociológica.
“O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade. Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”, lamentou o escritor, antevendo o mal dos tribunais digitais.