Vacinação injusta

Que o Brasil é um país socialmente injusto e os menos favorecidos economicamente sempre são os mais prejudicados é fato antigo e notório, de conhecimento público.

E, para confirmar essa verdade incômoda, sempre que um programa oficial importante de atendimento à população é concebido de maneira a igualar o direito das pessoas de diferentes origens ou condição econômica e social, recorrentemente surgem os burladores.

E, quando a fiscalização é intensa pela imprensa e pelas instituições públicas, as brechas legais são buscadas ou simplesmente criadas para manutenção de privilégios vergonhosos.

A quase certa aprovação pelo Congresso Nacional de lei que autoriza empresas a adquirir vacinas contra o Coronavírus para atender seus funcionários deverá ser a senha para que sejam desrespeitadas todas as regras até aqui cumpridas com dificuldades.

Fazendo prevalecer o poder econômico e de influência no acesso às vacinas, a desigualdade vai prevalecer nessa guerra que atinge a todos indistintamente, mas que será facilitada para os mais protegidos pelos recursos financeiros.

Grandes conglomerados, multinacionais em cujos países de origem existe produção de vacina e, obviamente, muitos órgãos públicos como Câmara, Senado e STF, podem ser privilegiados.

Considerando que nosso arcabouço jurídico e também nossos usos e costumes têm como tradição secular atender aos interesses pessoais e corporativos dos poderosos e abastados e, assim, marginalizar cada vez mais os pobres e sem informação, a medida legislativa em análise se reveste de enorme arrogância carregada de cinismo.

Os adendos justificatórios, como exigir que metade das vacinas adquiridas pelas empresas seja destinado ao PNI – Programa Nacional de Imunização -, certamente serão normas burladas e jamais fiscalizadas.

Portanto, mesmo diante de uma pandemia histórica, jamais conhecida pela humanidade, na qual nosso país se torna protagonista pelo aspecto negativo da falta de organização, coordenação e regras claras para o seu enfrentamento, além de estar entre aqueles com maior número de infectados e mortos, o legado de manutenção de vantagens às minorias privilegiadas é mantido com descaramento.

A medida a ser adotada confirma a suspeita de que a doença e a morte não servem de aprendizado e muito menos como ensinamento para uma sociedade elitista, antiética e desigual em todos os tempos e em todos os aspectos.

“…brechas legais são buscadas ou simplesmente criadas para manutenção de privilégios…”

Compartilhe
Facebook
WhatsApp
X
Email

destaques da edição impressa

colunistas

Cláudio Pissolito

Don`t copy text!

Entrar

Cadastrar

Redefinir senha

Digite o seu nome de usuário ou endereço de e-mail, você receberá um link para criar uma nova senha por e-mail.