VÍDEO: Estudantes de medicina debocham de jovem que fez três transplantes de coração

A Polícia Civil de São Paulo instaurou um inquérito por injúria contra duas estudantes de medicina após a família de Vitória Chaves da Silva, jovem que morreu em fevereiro deste ano após lutar contra uma cardiopatia congênita rara, denunciar um vídeo publicado no TikTok com comentários considerados ofensivos sobre o histórico clínico da paciente.

As autoras da publicação, Gabrielli Farias de Souza e Thaís Caldeiras Soares Foffano, aparecem no vídeo afirmando que Vitória teria passado por três transplantes de coração no Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, e que um deles teria falhado por suposto descuido da paciente com a medicação.

A gravação gerou revolta na internet e levou a família a buscar apoio do Ministério Público, além de registrar boletim de ocorrência. “Ficamos em choque quando descobrimos. Elas nem conheceram a minha irmã e mesmo assim fizeram afirmações erradas. Por causa disso, minha irmã começou a ser criticada nas redes sociais”, afirmou Giovana Chaves, irmã da paciente.

O delegado Marco Antonio Bernardo, do 14º Distrito Policial da capital paulista, explicou que a investigação foi aberta após a mãe da jovem se sentir ofendida com o conteúdo publicado. “Como a mãe relatou ofensa e difamação em relação à filha falecida, instauramos o inquérito por injúria, que é uma ação penal privada. A queixa-crime deve ser apresentada pelo advogado da família”, explicou ele.

O vídeo, que já foi apagado das redes sociais, não mencionava o nome de Vitória, mas citava o caso de uma paciente que teria recebido três corações e um rim, provocando reações irônicas das estudantes. Em um trecho, uma delas diz: “Essa menina está achando que tem sete vidas”.

Vitória foi diagnosticada com Anomalia de Ebstein, uma grave má-formação cardíaca, e passou por três transplantes de coração ao longo da vida, além de um transplante renal. A família afirma que a rejeição ao segundo órgão não foi causada por falha no uso dos medicamentos, mas sim por uma doença do enxerto, comum em pacientes transplantados.

A jovem, que sonhava ser médica, foi acompanhada por mais de 20 anos por equipes do InCor e chegou a aparecer em reportagens do programa Profissão Repórter. Segundo a irmã, a médica responsável pelo caso confirmou que Vitória sempre seguiu corretamente os protocolos médicos.

A jovem Vitória Chaves da Silva. Foto: Divulgação

Em nota conjunta, Gabrielli e Thaís afirmaram que não tiveram intenção de ofender a paciente e que o vídeo refletia apenas “surpresa diante de um caso clínico raro”. Elas negam deboche ou insensibilidade, afirmam não ter identificado a paciente nem acessado prontuário médico e lamentam a repercussão negativa.

“Nos solidarizamos com a família e reafirmamos nosso compromisso com os princípios éticos da Medicina”, disseram as estudantes em comunicado.

A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), responsável pelo InCor, esclareceu que as alunas participaram apenas de um curso de extensão de curta duração e que não possuem vínculo com a instituição. A faculdade reiterou o compromisso com a ética e informou que notificou as universidades de origem das estudantes.

As instituições de ensino de Gabrielli (Anhembi Morumbi, em SP) e de Thaís (Faseh, em MG) também se manifestaram, dizendo que repudiam qualquer desrespeito a pacientes e que estão apurando o caso internamente.

Vitória nasceu em Luziânia (GO) e foi diagnosticada com a doença cardíaca logo após o nascimento. O primeiro transplante foi feito aos cinco anos de idade. Após novos episódios de rejeição e internações, passou por outros dois transplantes, o último em 2024. Ela também fez o Enem em uma ambulância, já debilitada, com o sonho de se tornar médica.

Em fevereiro deste ano, Vitória morreu em decorrência de choque séptico e insuficiência renal crônica. Ela estava internada na UTI do InCor há mais de um ano e meio.

“Queremos apenas que a verdade sobre a história da minha irmã seja respeitada. Ela foi uma guerreira”, disse Giovana.

Fonte: Metrópoles

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