Vídeos que circulam pelas redes sociais mostram um jovem sendo espancado por grupos de homens na noite de terça-feira (05/12) na Zona Sul do Rio.
Um deles foi gravado na Rua Djalma Ulrich, em Copacabana. Vários homens batem no jovem caído agredido, e alguns usam objetos para acertá-lo.
Uma pessoa fala que é “para não roubar mais”.
O garoto cai no chão, e continua sendo chutado nas costas e cabeça – um cabo de vassoura é quebrado nele.
Depois de um tempo, perguntam por uma faca e o menino responde “eu não tenho faca, não”, e um homem revida “eu tinha que dar um tiro dentro da tua cara agora”.
Em outro vídeo, homens usam capacetes para bater na cabeça de um jovem – não é possível afirmar se é o mesmo do outro vídeo – dentro de um ônibus da 472, que faz o trajeto Triagem x Leme.
O homem que parece filmar, de fora do ônibus, diz: “Os manos vão amassar, aqui é Leme”.
Um terceiro vídeo mostra um outro adolescente sendo puxado por dois motoqueiros, que dão socos na sua cabeça enquanto ele corre.
Não se sabe a identificação e o estado de saúde de nenhum dos agredidos nem se eles haviam cometido algum crime.
‘Justiceiros são criminosos’, diz secretário
‘Justiceiros’ criam grupos para ‘caçar’ ladrões em Copacabana
As agressões, então, teriam acontecido em represália ao aumento de assaltos na região de Copacabana. Grupo estariam se organizado para reprimir quem fosse suspeito de roubar no local.
Fazer “justiça com as próprias mãos” é crime previsto no artigo 345 do Código Penal Brasileiro.
Em nota, a Polícia Civil informou que tomou conhecimento da situação e disse que diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e esclarecer os fatos. Os delegados da 12ªDP (Copacabana) e 13ªDP (Ipanema) estão atuando nas investigações e analisam vídeos de redes sociais para identificar os suspeitos.
A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Polícia Militar alerta que “convocações para agressões ou perturbação de ordem pública não são maneiras adequadas de resolver ações criminosas que vêm ocorrendo em Copacabana”.
“É importante que a sociedade apoie, confie e colabore com as ações realizadas pelos órgãos de segurança pública, bem como de outros atores envolvidos. É importante salientar que esse é um problema que ultrapassa a atuação somente da Corporação, sendo um obstáculo de âmbito social. E cabe destacar que é de suma importância a atuação ativa de outros atores sociais e de órgãos públicos – municipal, estadual e federal. Além disso, destacamos que a legislação vigente precisa ser revista no que tange a segurança pública”, diz a nota.
Informamos ainda que a SEPM continua atuando com policiamento reforçado, diuturnamente em Copacabana, trabalhando de forma integrada com as demais forças de segurança.
O secretário de Segurança Pública disse que os “justiceiros” são tão criminosos quanto os assaltantes. Em entrevista ao Estúdio i, da GloboNews, na quarta-feira (06/12), ele comparou os grupos a milícias e grupos de extermínio:
” Justiceiro é o berço da milícia. É exatamente isso, um grupo que se acha acima do bem e do mal, que se acha no direito de fazer justiça com as próprias mãos. E antes da milícia, nós tínhamos os grupos de extermínio. Praticam crimes com o objetivo de evitar crimes. Na verdade, são todos eles criminosos. O justiceiro é criminoso”, afirmou Victor Santos.
União para ‘caçar’ ladrões
Jovem é agredido na Zona Sul do Rio — Foto: Reprodução
A rotina de violência em Copacabana nas últimas semanas motivou o reaparecimento de grupos “justiceiros” no bairro – como já visto em 2015.
Por grupos de WhatsApp, eles se dividem em grupos para “caçar” – como eles definem – quem rouba na região.
“Eu vou partir assim [com soco-inglês], quebrar osso da cara. Deixar eles [SIC] pior do que eles deixaram o coroa”, disse um integrante do grupo União dos Crias.
O homem fala sobre como iria vingar o ataque sofrido pelo empresário Marcelo Rubim Benchimol, que levou chutes e socos até desmaiar, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, ao tentar defender a personal trainer Natália Silva.
O g1 teve acesso a conversas que mostram os integrantes exibindo as armas que vão utilizar no ataque contra o “coreto” – termo que usam para identificar “bondes” de menores infratores.
Entre os objetos que são ostentados, estão soco-inglês, pedaços de pau e citam até uma ‘retaguarda de peça” – ou seja, pessoas armadas para dar cobertura.
Alta nos índices de violência
Segundo os dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), com informações sobre os registros na 12ª Delegacia de Polícia Civil, entre janeiro e outubro de 2022 e 2023, Copacabana teve um aumento significativo nos indicadores sobre roubo e furto (veja nos dados abaixo).
Entre os indicadores de violência analisados, os de maior destaque negativo são:
- Furto a transeunte, que aumentou 56,3% em um ano;
- roubo de celular, com 47% de aumento;
- furto de celular, com alta de 34,9%;
- furto em coletivo, com 23% de aumento.
Indicadores de violência aumentam em Copacabana — Foto: Kayan Albertin / Arte g1
Ao todo, Copacabana viu o total de furtos subir 23%, em um ano. Se em 2022 foram registrados 3.978 furtos no bairro, o ano atual contou com 4.914 ocorrências.
Em relação ao total de roubos, o número passou de 760 para 951 casos, registrando um aumento de 25%.
Fonte: g1