Cícera Barbosa da Silva, de 70 anos, lecionou e ocupou diversas funções na estrutura educacional por 47 anos, em Presidente Prudente.
“Valeu a pena”. É assim que a professora e conselheira da Associação dos Professores Aposentados do Magistério Público do Estado de São Paulo (Apantesp) Cícera Barbosa da Silva, de 70 anos, definiu sua trajetória nas salas de aulas.
Em uma conversa para lembrar o Dia do Professor, celebrado nesta quinta-feira (15), ela contou que, apesar dos altos e baixos, conflitos e embates, o efeito de lecionar sempre foi positivo. Os reencontros com os alunos, tudo o que foi vivido, valeu a pena.
A Apantesp, conforme explicou Cícera, tem o objetivo de manter os vínculos entre os professores aposentados, uma forma de manter todos conectados.
“Além disso, é para nos lembrar que continuamos vivos pós-sala de aula, que podemos tudo. Também é o nosso meio de lutar pela manutenção dos nossos direitos”, explicou.
Foram 47 anos lecionando nas salas de aulas e também ocupando diversas funções na estrutura educacional, em Presidente Prudente. Cícera contou que não tem como calcular para quantos alunos passou seus ensinamentos, mas que o caminho tem sido muito gratificante.
“É emocionante ver alunos chegando tão longe no mercado de trabalho e saber que tenho participação nisso”, acrescentou.
Cícera também disse que a relação com os estudantes sempre foi tranquila, leve e, às vezes, até de amparo.
“Uma aluna, em torno dos nove anos, me disse uma vez estar sentindo uma dor na alma. Percebi o sofrimento em seus olhos, percebi o quanto ela precisava de amparo, carinho e de uma palavra de apoio. Professor também é isso”, relembrou.
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O amor pela profissão sempre esteve presente na vida da professora. Pouco tempo depois de se aposentar, a saudade de lecionar tomou conta dela.
“Estava tão acostumada com a minha rotina que, quando tudo mudou, foi um baque. Precisei de ajuda profissional para encontrar meu caminho novamente”, falou.
Cícera atualmente é voluntária em um seminário, onde dá aulas.
“Desde os sete anos, eu dizia que seria professora. É o que me renova, é minha tônica”, complementou.
O caminho, apesar dos grandes prazeres que a profissão proporcionou-lhe, também trouxe grandes dificuldades.
“A falta de parceria familiar sempre foi um grande problema. Os pais acham que é só deixar seus filhos nas escolas e que nós, professores, temos de fazer tudo. Cuidar da educação, do psicológico, do espiritual. As coisas não são assim. Todos temos de trabalhar no mesmo ritmo”, disse.
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A descrença no país por parte dos alunos mais jovens também é vista por Cícera como uma grande dificuldade na hora de ensinar.
“Eles não entendem por que devem ficar ali, na sala de aula, por tantas horas, sendo que as coisas estão cada vez piores. Questionam-se sobre a necessidade do estudo. Isso torna as coisas mais difíceis” contou.
A valorização do professor é algo pendente, na opinião de Cícera. Apesar de todos os passos dados até aqui, ainda há uma longa caminhada pela frente.
“Infelizmente, até a sociedade não tem nos dado o respeito que merecemos. Quando se fala em governo e politica, a situação é ainda pior. Nós somos formadores de todas as profissões, mas não somos valorizados da forma como merecíamos. Não há investimento em educação como deveria, com isso, não tem como esperarmos um retorno positivo. Nós fomos colonizados dessa forma, está em nossas raízes”, pontuou.
FONTE: G1