Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2013 e 2022, cerca de 19,9 mil homens tiveram o diagnóstico de câncer de pênis, sendo que, desse total, 5,6 mil tiveram que ter o órgão amputado devido a gravidade da doença
Uma verruga no pênis fez João*, de 63 anos, procurar ajuda médica pela primeira vez, em 2018.
“Comecei a ir em clínicas médicas conveniadas para saber o que era aquilo, mas todos os médicos me falavam que era por conta de excesso de pele e me receitavam medicamentos“, diz.
Apesar de se medicar, o aposentado notava que a verruga continuava a crescer.
Ele voltou a procurar especialistas, que passavam mais medicamentos e pediam novas biópsias – em que amostras do tecido de um órgão são retirados para análise.
“Era incrível, os exames não davam nada de grave, e os médicos voltavam a me receitar mais medicamentos. Nada resolvia.”
Ele só descobriu o que tinha em 2023, quando foi atendido em um hospital público de São Paulo e encaminhado para o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), onde fez uma nova biópsia.
O resultado: câncer de pênis.
“Para todos em casa, foi uma surpresa muito desagradável, ainda mais porque que tive que amputar parte do pênis. Eu me sinto decapitado“, diz João.
“É um tipo de câncer que você não pode falar para as pessoas, porque pode virar gozação.”
Dez amputações por semana
Um levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), com base em estatísticas do Ministério da Saúde, mostra que o número de casos assim têm crescido no Brasil.
Entre 2013 e 2022, cerca de19,9 mil homens tiveram o diagnóstico de câncer de pênis, sendo que, desse total, 5,6 mil tiveram que ter o órgão amputado pela gravidade da doença. Uma média de pouco mais de dez amputações por semana.
Segundo a SBU, quase todos os casos de amputações de pênis que são registrados no país são por conta de câncer, sendo raro casos de amputações por outras causas, como acidentes.
Desde 2008, o número de amputações de pênis por câncer tem crescido no Brasil.
Foram 411 naquele ano, e houve 573 de janeiro a novembro do ano passado, quase 40% a mais.
“Infelizmente, por vergonha ou falta de acesso aos serviços de saúde, é muito comum o homem recorrer a tratamentos indicados por conhecidos ou aquelas ‘pomadinhas’ do balconista da farmácia“, afirma Diogo Abreu, médico da seção de Urologia do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
“Isso atrasa o diagnóstico precoce e prejudica o resultado do tratamento.”
A demora no diagnóstico aumenta as chances de ser necessário amputar o pênis, porque o passar do tempo sem o tratamento adequado aumenta a gravidade do quadro.
Isso também eleva as chances de morte pela doença – que é, em média, de 0,29 casos para cada 100.000 habitantes