A notícia de que alunos atearam fogo às cortinas da sala de aula da escola estadual em que estão matriculados é mais um episódio triste na sequência de calamidades em que o Brasil está imerso.
A sala de aula já foi um território sagrado, ambiente em que se descortina o mundo novo do conhecimento. Lugar de aprendizado e de convívio. Ali se vivencia o melhor momento da curta infância e da célere juventude, antes que as vicissitudes do mundo adulto gradualmente comecem a diluir os sonhos e as ilusões.
Sintomática a atitude de quem destrói aquilo que, na verdade, é seu. A escola pública é sustentada pelo dinheiro do povo. De todos: mesmo daqueles que nunca puderam estudar. Daqueles que ficaram à margem da alfabetização e que são os habitantes da “Caverna de Platão”, não por vontade própria, mas por contingências.
Houve tempo em que alunos tinham família ciosa de suas responsabilidades. Pais e mães que não declinavam do “currículo oculto”, ou seja, de transmitir à prole noções de respeito, de polidez, de consideração em relação a pessoas e a bens. Principalmente os bens alheios. No caso, tudo aquilo que está dentro da escola não é apenas dos alunos que se servem e se utilizam desse patrimônio. A titularidade dominial é difusa: a escola pertence a todos. Então, quando se destrói algo dentro dela, atinge-se, difusamente, bem da população.
Sabe-se que o Brasil está mergulhado num tempo histórico de choro e ranger de dentes. Ressentimento, ira, ódio, violência. Descrédito em relação a tudo o que é estatal. Falta de esperança e de perspectiva.
Nessas horas é que a educação deveria estar a salvo. Ela é a chave para a resolução de todos os problemas brasileiros. Somente o conhecimento e a sabedoria conseguirão resgatar a humanidade desse peso aparentemente insuportável de assistir a um acelerado retrocesso em grau civilizatório.
Impossível acreditar que incendiar cortinas ou depredar escolas venha a auxiliar o projeto de contínuo aprendizado, que é a missão de todas as pessoas conscientes. Mesmo e inclusive aquelas que já passaram por todas as fases da escolarização formal.
Ou estamos diante de uma patologia que, como enfermidade, precisa ser tratada ou serão outros sinais do Apocalipse, que muitos já enxergam naquilo que nos é dado presenciar nestes tempos?