Administração e reeleição

“…o primeiro mandato quase sempre é usado como vitrine de encantamento de eleitores incautos…”

 

O calendário político é seguido à risca pelos interessados em ingressar na carreira, assim como por aqueles que pretendem se manter ou galgar outros cargos eletivos. Com o instituto da reeleição para os cargos majoritários, criado em benefício próprio pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso em 1998, houve sensível mudança na forma de administrar cidades, estados e o país. Em vez de mostrar trabalho de imediato e cumprir os quatro anos com bons resultados para tentar ao menos eleger o sucessor, muitos dos novos mandatários assumem os cargos montados em palanques eleitorais e neles permanecem.

Contando sempre com a memória curta dos eleitores, cuja maioria observa muito mais os interesses pessoais e imediatos do que os projetos de médio e longo prazo que podem transformar para melhor a condição de vida do conjunto da sociedade, é só a partir do penúltimo ano que tudo começa a acontecer. Os projetos apresentados em palanque são esquecidos rapidamente, os cortes e as maldades são feitos no início do mandato, assim como os benefícios e as nomeações e a agregação de novos correligionários só acontecem no final do ciclo, quando também já estão despontando os possíveis adversários.

Com praticamente um ano de trabalho verdadeiramente produtivo, cuja finalidade é plantar esperanças para ser colhidas no mandato seguinte, incluindo a conclusão de obras, a criação de novos programas sociais e o cumprimento de promessas passadas, o primeiro mandato quase sempre é usado como vitrine de encantamento de eleitores incautos, que passam a apostar no futuro próximo. E como sempre sobram demandas e faltam recursos, quando reeleitos os mandatários costumam relaxar e se preocupam mais em organizar suas contas para evitar problemas no futuro do que cumprir o que de fato foi prometido.

O circulo vicioso da reeleição, que transforma administradores em candidatos permanentes durante seus mandatos, também é nefasto para os membros dos legislativos que desejam se perpetuar nos cargos. Como a eleição de vereadores e deputados depende muito mais do investimento feito na campanha do que a verdadeira condição de produzir trabalho sério e competente, o chamado custo-benefício é calculado na primeira tentativa. Com a eleição e a consequente melhoria das finanças pessoais graças aos elevados subsídios públicos oferecidos aos eleitos, é possível criar uma reserva de recursos para o próximo pleito e, assim, garantir mais um mandato bem remunerado.

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Cláudio Pissolito

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