Pesa, sobre todas as pessoas, a vida com suas exigências, surpresas, sofrimentos, dores e mistérios. A vida, sempre, parece mais difícil do que ela realmente é! Nossa compreensão sobre as coisas, não raras vezes, está afetada por sentimentos feridos, por decepções, medos, desespero e, até mesmo, pela perda do sentido da vida.
As encruzilhadas da vida não são bem digeridas pelas por nós: gostaríamos que a vida fosse mais fácil e que as soluções fossem mágicas. Mas, não é assim! A vida não é fácil! Os problemas não são fáceis! As dificuldades são reais! Por isso imaginamos que não dá mais para continuar! Que tudo o que podíamos fazer já foi feito! Que acabou o tempo!
Como enfrentar, na vida pessoal, a aridez, a superficialidade, as angústias, a insegurança, o medo, o esvaziamento… sem perder a esperança? Como responder aos desafios da vida sem se tornar amargo? Como seguir o caminho sem ficar preso nos obstáculos? Como viver em paz, se a vida está em permanente ebulição?
Para a vida não ser um peso de morte e suas saídas não parecerem impossíveis, o que falta é a descoberta e o cultivo da vida interior.
A modernidade nos projetou para fora de nós mesmos e vivemos como se estivéssemos fora de casa; uma sensação de vazio, de insatisfação; de frustração, de perda; de angústia e de medo se instalou em nós. Nós vivemos a tragédia da perda da subjetividade. Alguém nos roubou de nós mesmos. Estamos perdidos e desencontrados.
O problema é que nos tornamos uma mera extensão das coisas. Somos meros apêndices do carro, do celular, da tecnologia… Apostamos toda nossa felicidade e realização nas coisas, no seu poder e fascínio. E o que aconteceu? Aconteceu que nós nos ‘coisificamos’. Viramos coisas também! Assim como um celular é descartado, tão logo sai um novo lançamento, somos nós… descartáveis. Terrível, mas, é verdade!
A descoberta e o cultivo da vida interior, não é uma teoria é um problema real. Nós deixamos de ser gente: de viver como gente, de reagir como gente, de respirar como gente. Perdemos a noção de como gente deve viver.
O progresso material nos transformou em pequenos fantoches, manipulados por dentro e por fora. Mas, ainda, há tempo! Basta querer! Basta tomar consciência!
“Beba a água da sua cisterna, a água que jorra do seu poço. Não derrame pela rua a água de sua fonte, nem pelas praças a água dos seus riachos. Sejam elas somente para você, sem repartir com estrangeiros. Seja bendita a sua fonte, alegre-se com a esposa de sua juventude: ela é corça querida, gazela formosa” (Pr 5,15-19).
A história conta que as sociedades antigas, como os hebreus do AT, procuravam viver em áreas próximas à água, pois isso facilitava a agricultura (Jó 14,9) e a manutenção da vida. Um poço, num lugar árido como Canaã/Israel, valia bem mais que ouro.
Os nossos pais e mães na fé, chamados de patriarcas e matriarcas, viveram de modo itinerante nas terras do oriente médio; eram nômades. Terra é água marcaram as suas vidas, regadas pela presença de Deus Pai que chama e desinstala.
O povo tinha o costume de cavar poços nas cidades e planícies para recolher as águas da chuva (Dt 6,10-12; Ne 9,25). Eles eram chamados de ‘poços de água das chuvas’. As casas antigas de Israel tinham poços no seu interior. Um outro tipo de poço era o assim chamado “poço de água viva”, isto é, poços profundos que chegavam até o veio d’água. O famoso poço de Jacó tinha 32 metros de profundidade.
No Evangelho, o encontro de Jesus com a samaritana, à beira do poço de Jacó é o retrato fiel da descoberta e cultivo da vida interior (Jo 4,1-15). “O poço era o de Jacó. A história era do povo de Israel. A evocação era do tempo sem divisões. Mas, o poço também é o de cada um. Cada um tem o seu próprio poço. Tirar água do próprio poço é uma necessidade com exigências próprias. De todo poço é preciso brotar água. Cristo Jesus, na sua sede, revela ser o único que pode ajudar e garantir condições para que a água verdadeira brote do interior de cada ser’.” (Dom Walmor Oliveira de Azevedo).
A vida, ainda, tem sentido! Mas, é preciso cultivar a vida interior!