“…a paixão dos eleitores deixou de se fixar na empatia para se aflorar em rejeições.”
Há muito se constata que a atividade política está cada vez mais degradada, se distanciando dos mais honestos, dos idealistas, dos sábios, das melhores cabeças e dos intelectuais serenos e competentes, para cada vez mais se aproximar perigosamente dos espertalhões, daqueles que desejam a ascensão econômica e social facilitada e dos criminosos que buscam proteção nas leis de encomenda.
Diante da triste realidade, de não se encontrar personalidades dignas e confiáveis como Mário Covas, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves ou Miguel Arraes, a paixão dos eleitores deixou de se fixar na empatia para se aflorar em rejeições.
Assim sendo, em vez de cultivar a simpatia e a admiração, o povo é movido pela antipatia e pela aversão, pois escolhe como opção aquele que seja capaz de vencer o inimigo da vez, mesmo que este não ostente os melhores predicados e que não maneje os melhores métodos, pois na guerra contra o mal qualquer arma é válida.
O eleitorado que deveria se guiar pela esperança, pelos melhores projetos e pelos princípios e valores que norteiam as sociedades mais bem desenvolvidas, tem como arma apenas o ódio para combater o que ele considera o pior, sem observar que neste caminho todas as opções são péssimas.
Movidos pela rejeição, pelo menosprezo, pelo asco e pela cólera que contamina os nobres sentimentos, o eleitorado mais politizado passa a usar a repulsa para julgar qualquer manifestação que pareça contrária ao objetivo de aniquilar o “adversário” que ameaça sua paixão, mesmo que esta já seja também muito bandida.
Sem parâmetros de valores éticos, morais e até humanos, todos se engalfinham na guerra surda liderada pelos maus, acreditando que estão combatendo pelo bem, mesmo que usando o nome de Deus em vão, praticando ofensas, xingamentos e destruindo reputações, instituições e histórias de vida e trabalho.
Entre muitos exemplos, os brasileiros perderam a boa referência das nossas universidades, agora taxadas de antros de comunistas, de nossos cientistas, considerados como perversos, dos estudantes, tidos como drogados, e dos artistas, taxados de aproveitadores, até chegar ao ponto de negar a bela história do país com as vacinas.
Junto às rejeições de encomenda, tudo o que até então era motivo de orgulho, está reduzido a lixo, desde a Rede Globo de Televisão, uma das melhores emissoras do mundo, passando pelas urnas eletrônicas, orgulho da nossa tecnologia, até inexoravelmente chegar às Forças Armadas, que infelizmente não sairão incólumes da guerra dos lixeiros.