EM ESTRANHA PRÁTICA, VELAS ERAM FEITAS COM FILHOTES DE PÁSSAROS NO ATLÂNTICO NORTE

 

Iluminar uma noite escura já levou as pessoas a recorrerem a diversos métodos, como utilizar óleo de baleia, por exemplo. Mas você acredita que, em algum momento, as pessoas na região do Atlântico Norte acendiam suas noites com velas feitas de filhotes de pássaros? Parece absurdo, mas um recente estudo mergulhou nesse território sombrio, explorando relatos históricos que sugerem que essa prática de fato existia.

A ideia pode soar como algo de um conto de terror, mas a pesquisa vasculhou evidências históricas, etnográficas e museológicas para entender o que era verdade e o que era apenas lenda.

Queimando gordura

De acordo com os estudiosos, os painhos-de-cauda-forcada (Hydrobates leucorhous) e os painhos-de-cauda-quadrada (Hydrobates pelagicus) eram as vítimas dessa prática incomum. Provavelmente, o motivo seria o alto teor de gordura ou óleo nesses pássaros, que fazia com que eles queimassem de maneira eficaz e iluminassem as noites escuras em regiões isoladas.

O relato mais antigo dessas velas peculiares é de 1764, no livro Ornithologia borealis, do naturalista dinamarquês Morten Thrane Brünnich. Ele descreve como o pavio, alimentado pela abundância de gordura dos corpos dos filhotes de painhos, substituía as velas nas Ilhas Faroe. 

Essas palavras se espalharam amplamente nos primeiros trabalhos ornitológicos, possivelmente alimentando os rumores de que essa prática era comum no local.  

Inclusive, uma das descobertas da equipe de pesquisa foi um espécime de painho europeu com um pavio enfiado ao longo de seu corpo, encontrado no Museu Pitt Rivers, em Oxford. Este exemplar, originário de Saint Kilda ou de Shetland e adquirido em 1892, foi uma prova tangível de que a prática de fato existiu.

Porém, as evidências sugerem que o uso de filhotes de painhos como velas não eram tão comuns quanto os relatos indicavam. A recente investigação revelou que a maioria dos relatos era de segunda mão, com poucos exemplos realmente verificáveis, como fotografias, relatos em primeira pessoa ou espécimes físicos em museus.

Prática não era difundida

Painho com pavio na ponta. (Fonte: Pitt Rivers Museum/Reprodução)

Painho com pavio na ponta. (Fonte: Pitt Rivers Museum/Reprodução)

O autor do estudo, Dr. Alex Bond, conta que, apesar da existência de espécimes físicos e de um relato histórico na Irlanda, o número de relatos em primeira mão é menor do que se esperaria, questionando a popularidade dessa prática bizarra.

A longa tradição de caça de aves marinhas pode ter contribuído para a perpetuação da ideia de que filhotes de painhos eram usados como velas de maneira generalizada. As evidências, contudo, sugerem que essa prática era mais rara do que a imaginação popular permitia, ficando reclusa a lugares mais isolados, não sendo conhecida por todos os habitantes da região.

A persistência dessas histórias, segundo os pesquisadores, provavelmente decorre de relatos exagerados de naturalistas visitantes nos séculos XVIII a XX, criando uma aura de mistério em torno de uma prática que, apesar de real, era menos comum do que as narrativas sugerem.

Fonte: Mega Curioso

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