Ana Caroline Sodré estava em casa, com o marido e seus cinco filhos, quando imóvel foi atingido por um barranco
Quem chega à casa de Ana Caroline Sodré, de 24 anos, no bairro da Chacrinha, em Japeri, não tem a dimensão do estrago feito por um barranco que caiu sobre o imóvel, matando a jovem na noite de quarta. Ela será enterrada no Cemitério municipal de Japeri no fim desta tarde. À beira da linha do trem, próximo à estação de Japeri, o sobrado de três andares se mantém de pé. No entanto, o barro invadiu todo o primeiro andar, justamente onde ela estava com o marido.
— O meu irmão (marido de Ana) ficou preso embaixo do guarda-roupa, com barro em cima. Nós conseguimos tirar os dois da lama, mas ela já estava sem vida — lembra o pedreiro Elideo Xavier de Almeida, de 25 anos, cunhado de Ana.
A mulher deixa cinco filhos. A mais velha, de 7 anos; um menino de 5; outra menina de 2; além de dois bebês, gêmeos, ainda de colo. Todos estavam no imóvel, mas as crianças, que brincavam na parte da frente da residência, logo foram resgatadas pelos vizinhos.
Elideo, com mãos cortadas e sujas de barro, conta que a “ficha ainda não caiu”. Segundo ele, parentes e vizinhos enfrentaram a lama usando pás, enxadas e as próprias mãos.
Além do barro, que desceu da encosta, a frente da casa estava alagada. A ambulância que chegou para fazer o socorro não conseguiu acessar o terreno e foi preciso ajuda de uma escavadeira, para dar carona aos paramédicos até o local.
Vizinhos saíram do local por medo: ‘Tragédia anunciada’
No mesmo bairro, a vendedora Elenice Mendes Manoel conta que o temporal fez com que a água passasse do nível da canela. Apesar de lamentar a perda de seus móveis e eletrodomésticos, ela viveu um livramento.
O motivo é que nos dois andares acima da casa de Ana, morava justamente a filha de Elenice, grávida e mãe de um menino de 10 anos.
— Minha filha estava morando (no sobrado) há seis meses, mas o barranco estava desabando e ela disse que isso era uma tragédia anunciada — conta Elenice, ainda consternada pela morte de Ana. — Tadinha (da Ana), porque ela disse para minha filha que também iria embora, mas ela tinha cinco filhos, é tudo mais difícil, e não deu tempo de se mudar.
Elenice mora com o marido, o técnico de enfermagem Ailton de Nazaré Manoel, de 58 anos. Juntos, pensam se irão passar a próxima noite em casa. A preocupação se dá porque, por volta das 14h desta quinta-feira, nuvens carregadas voltaram a cobrir a cidade, e começou a chover.
Chuva provoca mortes e deixa desaparecidos no Rio de Janeiro
Vereador da oposição diz que obras da cidade são de má qualidade
O vereador Tiago Careca, que faz oposição à prefeita Fernando Ontiveros, passou o dia no bairro da Chacrinha. Ele ressalta que a chuva atingiu o estado inteiro e que o nível da água foi muito grande, sem culpar o município pelas duas mortes ocorridas na cidade, em decorrência de quedas de barranco.
Mas ele pontua que há obras na cidade relacionadas à melhoria do sistema de saneamento, mas que não foram eficazes.
— Aqui na cidade foi lançado um pacote de obras de saneamento e infraestrutura, mas infelizmente foi de péssima qualidade. Em vez de trazer para a população um sonho antigo, está trazendo pesadelo — diz o vereador.
Fonte: Extra