Sobre uma pequena estante com alguns livros, uma placa fazia uma pergunta e um convite a quem passava pelo Eixão do Lazer, em Brasília, durante o domingo (09/06). “Vamos falar de amor? Escrevo cartas para o dia dos namorados – de graça.”
Duas cadeiras, um bloco de papel e uma caneta complementavam o cenário escolhido pelo jornalista Paulo Pimenta que pretendia oferecer seus serviços para quem aparecesse. Mas apenas uma pessoa parou “e queria uma carta pronta”, diz ele.
A proposta era ouvir as histórias de amor das pessoas. Anotar tudo, com detalhes, lembranças, desejos, festejos, arrependimentos. Depois, transformar as “confissões” em uma carta, um texto único, pessoal, “do jeito que é um relacionamento”.
Não deu certo. O autor da ideia disse que algumas até pararam e conversaram um pouco. No entanto, quando percebiam que a proposta era falar do seu amor por alguém, desistiam. “Acredito que as pessoas continuam precisando de amor, mas sentem uma certa vergonha.”
Mundo real x virtual
O jornalista, que publica textos em uma rede social, diz que sentia necessidade de sair do mundo virtual. No entanto, a experiência mostrou que pode ser mais difícil falar de amor no mundo real.
Ao voltar para casa, sem escrever uma única carta de amor, Paulo postou algumas fotos da “banquinha”. Pouco tempo depois, ele recebeu três pedidos “Direct” – o recurso que permite trocar mensagens de forma privada.
Eram seguidores querendo cartas para o Dia dos Namorados. Paulo conta que escreveu os textos no computador e mandou por e-mail. Nada de bloco de papel e caneta, como o planejado para a ação inicial.
Carinho na alma
Para o jornalista, o resultado “foi um pouco frustrante”. Mas ele assegura que não vai desistir. “Talvez o local escolhido, o Eixão, não tenha sido o melhor porque as pessoas passam ali correndo.” No fim de semana que vem, Paulo disse que vai para a rodoviária do Plano Piloto. “A ideia é incentivar as pessoas para que se expressem”. O tema não será mais o “amor romântico”. Podem ser cartas para amigos ou parentes, diz ele.
Apaixonado pela escrita, o jornalista de 27 anos tem um grupo de amigos que se falam por meio de cartas. É o prazer de abrir um envelope dirigido a um destinatário único que ele pretende dividir com quem quiser viver a experiência. “Não recebo muitas, às vezes uma única em um mês. Mas é um textão imenso escrito pra mim. É um carinho na alma.”
Fonte: G1