Menos matas, menos chuvas

“Cada pequena nascente soterrada para aproveitamento agrícola representa menos água no rio…”

A colonização da região do Vale do Paranapanema, em meados do século 19, já na última fronteira do Sertão Paulista, foi marcada pelo desmatamento de grandes e pequenas áreas florestais para introdução da agricultura de subsistência e abertura das fazendas de gado e café. Atuando inicialmente como mateiros, depois como combatentes de índios e finalmente agricultores e pecuaristas, os pioneiros criaram a cultura da devastação.   

Desde então, as florestas se tornaram empecilhos às civilizações e inimigas do progresso material e social para a formação das cidades e de fazendas, para o desenvolvimento da pecuária extensiva e da agricultura familiar e de exportação, com incentivos fiscais e creditícios para o desmatamento e a destoca das áreas devastadas. Essa prática fez da região do Paranapanema, de terras férteis e planas, uma das mais desmatadas do Estado de São Paulo, uma vez que a erradicação das florestas foi mantida até meados dos anos de 1980, quando a consciência ecológica e o reconhecimento do equilíbrio ambiental para garantia da produção foram comprovados.

Entretanto, com exigências ambientais muito brandas e o cumprimento das normas quase sempre burladas, tanto pelo desconhecimento da importância da preservação da natureza como pelo excesso de ganância do lucro imediato, a desertificação foi sempre acelerada. Somada às mudanças climáticas que afetam com mais intensidade as áreas menos protegidas, chegou o desafio das grandes secas, das elevadas temperaturas e do risco cada vez maior dos incêndios que causam prejuízos materiais e humanos incalculáveis ao exigir mais recursos técnicos para o plantio e proteção das áreas e pelas doenças respiratórias e alérgicas que assolam as populações rurais e urbanas.

Cada pequena nascente soterrada para aproveitamento agrícola representa menos água no rio que poderia ser fonte para sistemas de irrigação; cada pequena árvore, nativa ou frutífera, erradicada sem necessidade é um abrigo a menos para animais e aves e menos barreiras contra os ventos; enquanto cada pequeno incêndio florestal, acidental ou proposital, representa menos matas e menos chuvas. E, assim, diante de cada gesto impensado, de cada medida inadequada, seja pela falta de conhecimento ou pela ambição de ganhar um pouco mais, o próprio homem destrói o patrimônio natural que serviu a gerações passadas e que deveria atender às necessidades futuras.

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Cláudio Pissolito

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