MIÇANGAS E FRANGALHOS

A nossa vida, por vezes, parece irreconhecível dada a sua complexidade. É evidente que nada é tão simples quando a questão é viver. Mas, talvez tenhamos fragmentado tanto as coisas e a nós mesmos que ficamos, praticamente, sem controle de nada. Isso, evidentemente, repercute sobre cada um dos nossos atos, desejos, decisões, pensamentos…

Precisamos recompor a nossa integridade e a integralidade das coisas. De outro modo será impossível resistir. Porque a questão é que não dá para viver aos pedaços, em miçangas e frangalhos.

Vamos às constatações!

Que história é essa de amor livre? É uma reivindicação de liberdade e de independência ou a busca de auto-afirmação? É o temor de ser superado ou o desejo de não se distanciar de uma experiência? É o desejo de ser como todo o mundo ou uma nova maneira de alienar-se nos próprios instintos? É o medo de não ser mulher completo ou o pavor de não ser mais o “macho”? E uma reação violenta contra proibições e tabus ou uma modificação no conceito de amor e casamento? E o consumo do sexo como se consome qualquer outra coisa ou, simplesmente, medo da sexualidade? Que história é essa de amor livre?

Quando olhamos melhor, muito se fala de sexualidade. As vezes, soa como um condimento que se emprega em todos os molhos. Quase sempre, porém, não sabemos o que vem a ser sexualidade.

A sexualidade não é uma brincadeira, um passatempo, uma doença, um pecado. Não é tão pouco, uma força cega, nem uma mercadoria de compra e venda. É uma dimensão do amor. Aliás, nossa época diz que sabe “fazer amor”, sabe fazer filhos, mas ainda não sabe viver o amor.

Vivemos na encruzilhada do grande relativismo. Tudo pode… Nada é importante… Estamos insensíveis. Banalizamos a vida… Vivemos de maneira tola, ridícula, vazia, frívola, vulgar e já não nos sentimos mais envergonhados por isso.

Para você, que coisa conta mais na vida? Que coisa é importante? Que coisa você colocaria acima de tudo? Que coisa é necessária? O que faz você viver? Qual é a verdadeira riqueza? Que coisas estão dentro de suas escolhas: o dinheiro? A Moto? A saúde? O homem? O trabalho? O sexo? A economia? A Amizade?  A moda?  A justiça? O sentido da vida? O amor? O progresso? Uma vida simples? Jesus Cristo? A gratuidade? A droga? O esquecimento? Nada?

Muitas vezes o homem atribui às coisas uma importância, uma solidez, um valor, uma consistência que elas não podem ter: porque são usadas, apenas, objetos… Quanto mais nu se vê diante da vida, maior valor dá ao que não merece preço, às coisas e às futilidades. No fundo, é alguém desorientado e frustrado que se agarra, desesperadamente, a tudo o que passa. Mas, no fim, nada perdura; tudo é tão fácil… Esta procura, quem sabe, vai até o dia de um encontro decisivo consigo mesmo!

A vida ensina que sem decisão não há escolha. Sem escolha não há compromisso. Sem compromisso não há realização.

Precisamos de novas luzes e, as vezes, é preciso ir atrás do fogo, como no começo.

(…) E, lá vamos nós!

Partimos em busca do fogo. Alguns eram cépticos, outros entusiastas. Sentíamos frio. Passaram-se os dias; um dos nossos, vencido pelo cansaço, parou. Perdera o entusiasmo! Nós o chamamos, procuramos arrastá-lo, mas nada feito! Abandonou-nos. Com o coração dolorido, retomamos a caminhada. Um belo dia surge o sol como a nos saudar. Sob galhos frondosos, repousamos. Muitos ficaram; nós tornamos a partir. Passaram-se noites e dias, desertos, lagunas; sofremos, crescemos, mas encontramos o fogo. Agora voltamos para trazer-lhe o fogo…

Não é suficiente possuir o sol se não somos capazes de dá-lo, em forma de fogo.

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Cláudio Pissolito

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