Perceba-se ou não com a acuidade necessária, o mundo contemporâneo é governado por computadores. Eles constituem a parte mais importante dos aviões, dos navios, dos carros e de tudo o que nos cerca. Estão nas geladeiras, nos controles inteligentes de casas e apartamentos, nas máquinas agrícolas e em espaços que sequer imaginamos.
Já integram o vestuário, incorporaram-se à infraestrutura da qual dependemos. E eles são cada vez mais ágeis, rápidos e eficientes. Ainda não temos a computação quântica, em curso junto a institutos de pesquisa e empresas de ponta. Mas os novos sensores e o milagroso algoritmo que aprende instantaneamente viabiliza a utilização crescente de canais inovadores de acesso à computação.
Teclados, telas, tendem a desaparecer, como já desapareceu o círculo giratório dos antigos telefones. Tudo sob comando de voz, com toque de um indicador ou foco na íris do usuário. Linguagem corporal, gestos manuais e olhares propiciarão a leitura das intenções conscientes e inconscientes dos humanos.
No ano passado, o Facebook divulgou que uma equipe de sessenta pesquisadores, dentre os quais expertos em neuroprostética e aprendizado automático estavam cuidando de operacionalizar comandos e mensagens a um computador, mediante exclusivo uso do pensamento. O que será o mundo dentro de poucos anos?
Há quem se preocupe e evidencie temor. Sugere-se uma analogia com o povo inca, antes da chegada do conquistador espanhol. Não previa a sua destruição. Assim seríamos nós, entregues à inteligência artificial que pode nos suplantar. Temos limites, condicionamentos e lindes competenciais. Será que corremos o risco de sermos substituídos?
O que sabemos é que precisamos nos educar e, principalmente, educar as crianças que já nascem com chips. Aficionadas, viciadas e dependentes das geringonças eletrônicas, perdem a polidez, a capacidade de se exprimir, vão se tornando autômatos. Como as máquinas exigem clareza e síntese, começam a tratar os pais com fria aspereza: “Fome”, em lugar de “eu gostaria de um sanduíche”. “Fora”, em lugar de “prefiro ficar sozinho”. E por aí vai.
Tudo o que a ciência e a tecnologia produzem pode ser algo que nos torne mais humanos, mais sensíveis, mais preparados para uma trajetória cujo fim conhecemos: é a morte. Somos finitos. Somos frágeis. Não somos eternos.
Saibamos nos valer daquilo que a inteligência humana oferece para tornar os humanos mais humanos e não para acelerar o projeto de descarte da criatura racional, quando se tornar menos precisa, ágil e inteligente do que o instrumental que produziu.
*José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário, autor de “Ética Geral e Profissional”, 13ª ed., RT-Thomson Reuters.