Sem o agronegócio, a participação das fontes renováveis na matriz energética brasileira cairia de 49% para cerca de 20%. Estudo do FGV Agro mostra que o setor é, simultaneamente, consumidor eficiente de energia e principal fornecedor de bioenergia do País, revelando-se como uma peça-chave para a COP 30

O agronegócio brasileiro é reconhecido mundialmente como grande produtor de alimentos. Entretanto, há um aspecto menos conhecido: o setor também é um protagonista energético e responde por parcela considerável da energia renovável que sustenta a matriz brasileira.
A pesquisa revela a posição única do Brasil para apresentar nas negociações globais: é possível produzir alimentos e fornecer energia limpa simultaneamente.
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA COM DEPENDÊNCIA DO DIESEL
Até o momento, não existia um retrato completo da relação do agronegócio com a energia. Conhecia-se a dependência do diesel e o papel da cana no etanol, mas faltava uma visão integrada. O estudo conduzido por pesquisadores do FGV Agro oferece esse diagnóstico abrangente da pegada energética do setor brasileiro.
Os dados revelam que o agronegócio brasileiro apresenta maior eficiência que a média global e que usa menos energia por hectare e por valor agregado, resultado de fatores como clima favorável, tecnologia adaptada ao ambiente tropical e alta produtividade.
Apesar dessa eficiência, o campo brasileiro ainda tem espaço para reduzir a dependência do diesel, que respondeu por 73% da energia direta consumida no agro, ligeiramente acima da média mundial (70%).
ELETRICIDADE LIMPA AINDA SUBUTILIZADA
Outro aspecto relevante: apenas 27% da energia consumida na agricultura brasileira é eletricidade, próximo à média global. No Brasil, essa eletricidade é majoritariamente renovável, proveniente de hidrelétricas e de fontes solares e eólicas.
O desafio está na infraestrutura: máquinas agrícolas com baixa eletrificação, redes rurais insuficientes e custos de adaptação elevados. O País possui matriz elétrica limpa, mas o campo ainda não conseguiu aproveitar plenamente essa vantagem.
BIOENERGIA: MÁQUINA DE CAPTURA DE ENERGIA SOLAR
Se, no consumo, ainda existe espaço para avanços; na oferta de bioenergia, o agro é protagonista. Em 2023, o setor respondeu por quase 60% da energia renovável disponível no Brasil.
Essa trajetória começou com o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) na década de 1980, ganhou impulso com o etanol e os veículos flex a partir de 2003 e se diversificou com o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Atualmente, a bioenergia agrícola vai além desses biocombustíveis: inclui óleos vegetais, biogás, biometano, lixívia, silvicultura comercial, bioeletricidade, entre outros.
Com essa diversificação, subsetores industriais como os de alimentos e papel são abastecidos, em mais de 70%, pela bioenergia rural. O principal achado é contundente: sem o agronegócio, a participação dos renováveis na matriz nacional cairia de 49% para cerca de 20%, alinhando o Brasil à média global de 15%.
AGRONEGÓCIO SUSTENTA LIDERANÇA EM ENERGIA RENOVÁVEL
Esse achado modifica o entendimento sobre as negociações climáticas. O Brasil pode afirmar, com base em dados concretos, que sua posição de destaque em energia renovável existe porque o agro abastece a matriz energética.
Entre 1970 e 2023, a participação da bioenergia do agronegócio cresceu de 9,7% para 29,1% da oferta interna de energia, atingindo 30,1% em 2020. Essa evolução evidencia que a agricultura brasileira vai além da produção de alimentos: sustenta a liderança do País em energia renovável.
COP 30: OPORTUNIDADE PARA MOSTRAR A BIOECONOMIA BRASILEIRA
A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 30/UNFCCC, nas siglas em inglês) será o cenário para o Brasil apresentar esse diferencial. Poucos países conseguem unir segurança alimentar e segurança energética com essa intensidade.
O estudo evidencia que o agronegócio brasileiro tem dupla função estratégica: consome energia com eficiência e fornece bioenergia em larga escala. Essa característica fortalece a posição do País quando o mundo busca reduzir emissões mantendo a produção de alimentos.
Fonte: FGV Centro de Estudos do Agronegócio; – Colaboração Jornalista Mauricio Picazo Galhardo
 
				





 






 
								