O risco do cargo

“…a cada mandato que se finda o que restam são ex-prefeitos denunciados, condenados e inelegíveis…”

 

O sistema político-administrativo nacional é uma dos mais perversos do mundo, capaz de liquidar projetos de governança, sepultar planos de governo e causar enormes frustrações nos eleitores que apostam na democracia como instrumento mais eficiente para levar adiante um projeto de nação ou de cidade. A concentração de recursos em nível nacional e a transferência de responsabilidades aos municípios transformam prefeitos em especialistas na agenda política partidária, especializados em carregar pires nos corredores ministeriais, governamentais e dos parlamentos.
Em vez de comemorar a melhoria da receita própria de seus municípios, que passariam a ser autossuficientes, mas cuja medida pode desagradar os eleitores pelo aumento de impostos e taxas, os mandatários das cidades preferem exibir a capacidade de conseguir recursos pela bondade e a amizade com governantes e deputados. Em vez de administrar suas Prefeituras, implementar medidas de contenção de gastos e otimizar os recursos existentes, além de conservar ao máximo os veículos e equipamentos, como fazem as empresas privadas, é muito mais fácil renovar a frota a cada mandato e fazer elevado número de aquisições a cada quatro anos.
O sistema montado para garantir a eleição e a reeleição daqueles que definem as regras eleitorais e administrativas pode ser considerado como viciado pela sua própria natureza, uma vez que a democracia se baliza pelo voto transformado em moeda de troca para grande parte da população. Sem critérios de avaliação dos custos das campanhas, quase todas fraudadas, sem fiscalização eficiente durante as campanhas e nos dias dos pleitos, o que se tem é a repetição dos mesmos a cada eleição. Com subsídios elevados e algumas negociatas, é possível aumentar o número de votos na mesma proporção em que se aumenta o investimento.
Não por acaso, a cada mandato que se finda o que restam são ex-prefeitos denunciados, condenados e inelegíveis, assim como secretários e diretores com seus bens indisponíveis, além da enorme exploração política dos fatos. As causas principais são as dificuldades para administrar de forma isenta e séria, os arranjos feitos pela reeleição, assim como a incapacidade ou a irresponsabilidade dos que assumem cargos. Afinal, o que antes era uma incumbência de muito orgulho por servir ao povo emprestando conhecimento e sabedoria ao serviço público, se transformou em profissão de carreira em cargos de enorme risco.

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Cláudio Pissolito

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