Professoras de escola acusada de maus-tratos relatam que eram orientadas a amarrar bebês em banheiro para não serem ouvidos da rua

Segundo as professoras, a diretora alegava que queria manter uma ‘boa impressão’. Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica passou a ser investigada também por suspeita de tortura contra crianças na escola. Instituição, por meio de nota, ‘quer saber o propósito dessas acusações incabíveis, inverídicas e aterrorizantes em que foram expostas’.

Vídeos mostram crianças amarradas em banheiro da escola infantil Colmeia Mágica, na Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo — Foto: Reprodução
Vídeos mostram crianças amarradas em banheiro da escola infantil Colmeia Mágica, na Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo — Foto: Reprodução

Duas professoras que trabalhavam na Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica, na Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo, suspeita de tortura contra crianças, disseram ao g1 que eram orientadas pela diretora a amarrar as crianças em um banheiro para evitar que elas chorassem em sala de aula.

Segundo as professoras, a diretora alegava que queria manter uma “boa impressão”, alegando que “os choros poderiam ser ouvidos pelas pessoas que estivessem passando pela rua da escola ou pais que estivessem visitando o local”, que poderiam imaginar que as crianças estariam sendo maltratadas de alguma maneira.

“Ela mesma levava para o banheiro, até brigava com os professores, questionando o motivo que a criança que estava chorando ainda não tinha sido levada para o banheiro. Quando elas estavam chorando não podiam ficar em sala de aula, porque se alguém estivesse andando na rua e ouvisse a criança chorando ia imaginar que elas podiam estar sendo maltratadas. Ela queria dar a aparência de uma escola perfeita”.

Polícia de São Paulo recebe novas acusações de maus-tratos em escola infantil
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Em nota, as donas da escola citadas pelas mães e pelas professoras, Roberta Regina Rossi Serme e a irmã, Fernanda Carolina Rossi Serme, informaram que, “a Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica ME suspendeu as atividades temporariamente”. “Mais do que ninguém a instituição quer saber o propósito dessas acusações incabíveis, inverídicas e aterrorizantes em que foram expostas”, diz o texto (veja nota completa no final da reportagem)

Polícia apura suspeita de tortura

A Polícia Civil também apura a suspeita de tortura contra crianças na escola. Mães de duas crianças que aparecem em vídeos amarradas e chorando foram ouvidas pela investigação. Elas disseram que seus filhos voltavam para casa feridos e doentes quando saíam do berçário da escola.

Uma professora que prefere não ser identificada, afirmou que sempre que a diretora Roberta Regina Rossi Serme, de 40 anos, ouvia uma criança chorando, ela mesma ia até a sala de aula, reprendia a criança e se ainda assim continuasse chorando, a diretora a levava para o banheiro.

“Ela entrava na sala e mandava a criança calar a boca, quando a criança chorava muito, ela tirava eles da sala de aula e levava até o banheiro e deixava lá trancado no escuro no bebê conforto. Quando era uma [criança] maiorzinha, ela levava para ficar sentado no chão da própria sala por horas, muitas chegavam a dormir sentados de tão cansados”, afirmou a professora que trabalhou no local de novembro até fevereiro no local.

Uma outra professora que trabalhou na escola infantil entre julho e dezembro de 2021, afirmou que assim que começou a trabalhar no local, a própria diretora relatou que costumava “embalar” os bebês para que eles dormissem melhor.

A professora também relatou que com o passar do tempo, além de amarrar os bebês, a diretora também levava eles para o banheiro, apagava a luz e fechava a porta do local. “Ela vinha com a desculpa de que era para evitar que as pessoas da rua ouvissem os choros porque poderiam interpretar isso da maneira errada”.

“Ela se irritava muito com o choro, nós não colocávamos eles no banheiro, sempre tentávamos acalmá-los na sala mesmo. Quando o choro persistia ela entrava nervosa na sala afirmando que não queria criança chorando em sala de aula, nisso ela fazia a amarração e levava a criança para o banheiro, em alguns casos ela pedia para a tia da limpeza ajudar ela”.

Segundo os relatos, cerca de sete professoras trabalhavam no local, uma das professoras ouvidas pelo g1 informou que a equipe tinha medo de repreender ou interferir na prática da diretora. “Ela é a dona, ela dava ordens, porém, eu mesma nunca levaria para o banheiro, muito menos prender eles com lençóis”.

Investigação

A escolinha é investigada desde a semana passada pelos crimes de maus-tratos, periclitação de vida, que é colocar a saúde das crianças em risco, e submissão delas a vexame ou constrangimento por causa dos vídeos que circulam nas redes sociais e mostram maus-tratos a quatro alunos. Dois deles são filhos dessas mães que relataram ter visto os filhos machucados e doentes. Nas filmagens, eles aparecem amarrados e chorando dentro de um banheiro.

Nesta semana, no entanto, a Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da 8ª Delegacia Seccional, decidiu incluir a tortura após ouvir diversos depoimentos sobre como as crianças eram tratadas na Colmeia Mágica.

g1 conversou com essas duas mães ouvidas pela investigação. Elas levaram ainda para a polícia fotos de seus filhos. Um dos meninos aparece com um machucado na testa e outro está internado em um hospital tomando oxigênio após sentir falta de ar. Os dois ficaram assim depois de deixarem a escolinha.

Menino ferido e outro doente

Polícia de São Paulo investiga maus-tratos a bebês em creche
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“Na época eu até mandei mensagem para a diretora perguntando sobre o que tinha acontecido com ele, mas ela não me respondeu. No dia seguinte ela disse que não se recordava de nada, mas que ele podia ter batido em algum brinquedo, até porque, eles vão para a escola e estão sujeitos a se machucar”, disse a autônoma Laura Stramaro, de 34 anos, mãe de um menino de 2 anos.

Em maio de 2021, o filho dela chegou em casa com um hematoma perto da sobrancelha.

“Em novembro do ano passado a diretora e proprietária me ligou dizendo que meu filho estava com dificuldades para respirar. Depois ficou dois dias internado em um hospital para a saturação de oxigênio regularizar”, falou nesta terça-feira (15) a advogada Vitória Costa, 23, mãe de um bebê de 11 meses.

À época as duas mães acharam que os filhos tinham se machucado sozinhos, mas depois de assistirem aos vídeos que mostram seus filhos com os braços imobilizados, enrolados com panos, presos em cadeirinhas de bebê embaixo de uma pia e próximas a uma privada, elas passaram a acreditar que as crianças sofreram maus-tratos.

A diretora citada pelas mães é Roberta Regina Rossi Serme, de 40 anos. Ela e a irmã, Fernanda Carolina Rossi Serme, de 38, são sócias da Colmeia Mágica. A escolinha foi fundada em 2002 e atende crianças 0 a 5 anos, do berçário ao ensino infantil.

Bebês são filmados chorando e amarrados com espécie de 'camisa de força' em escola infantil, segundo a polícia — Foto: Reprodução/Redes sociais
Bebês são filmados chorando e amarrados com espécie de ‘camisa de força’ em escola infantil, segundo a polícia — Foto: Reprodução/Redes sociais

Professora teria filmado

Vídeos mostram crianças amarradas em banheiro de escola infantil na Zona Leste de SP
Vídeos mostram crianças amarradas em banheiro de escola infantil na Zona Leste de SP

Mães de crianças, que tinham seus filhos matriculados na Colmeia Mágica, disseram ao g1 que Roberta convocou uma reunião de emergência com os pais na última sexta-feira (18), quando voltou a negar que tivesse cometido maus-tratos contra as crianças.

“A diretora disse que uma ex-funcionária descontente estava fotografando crianças em situação fora do contexto para prejudicar a escola”, falou a advogada Vitória Costa, de 23 anos, mãe de um menino de 11 meses. “Na reunião nenhum dos pais tinha visto o vídeo dos maus-tratos ainda. Saímos de lá então acreditando na versão dela”.

Essa ex-funcionária é uma professora, segundo os pais. Professoras ouvidas pela reportagem disseram que a própria diretora amarrava as crianças para elas ficarem quietas. Em outras oportunidades, segundo elas, Roberta obrigava as educadoras e outras funcionárias a fazerem isso.

A declaração de Roberta aos pais foi dada um dia depois de a polícia ter ido a Colmeia Mágica cumprir um mandado judicial de busca e apreensão. Foram recolhidos sete lençóis que teriam sido usados para amarrar os bebês que aparecem nos vídeos. Três celulares, incluídos o da diretora, acabaram apreendidos. Todos os objetos serão periciados.

A professora que teria tirado fotos e feito vídeos com as crianças amarradas já foi ouvida pela polícia. A reportagem não conseguiu apurar, porém, o que ela disse. A investigação ouviu a direção, professores e funcionários e está pegando depoimentos de pais para saber se alguém pode ser responsabilizado pelos maus-tratos contra os bebês.

Outros casos

Novo vídeo mostra crianças presas com 'camisa de força' no banheiro em escola de São Paulo
Novo vídeo mostra crianças presas com ‘camisa de força’ no banheiro em escola de São Paulo

Em 2010, uma menina de pouco mais de 3 meses de vida morreu após ter sofrido parada cardíaca no berçário. A morte dela foi confirmada pelo hospital para onde a criança foi levada. A polícia investigou o caso da criança como “morte suspeita” em 2010. Segundo a mãe, o laudo necroscópico apontou que a causa da morte foi “asfixia mecânica por agente físico”. Mas de acordo com o Ministério Público (MP), o laudo concluiu que ela morreu por “asfixia por broncoaspiração”.

Em 2014 uma mãe acusou a diretora de agredir seu filho de 2 anos, que ficava na escolinha. As duas mulheres acabaram brigando, segundo a polícia. E em 2017 teve um caso no qual uma adolescente de 14 anos acusava a diretora de ameaçá-la e xingá-la.

g1 procurou a Secretaria da Segurança Pública (SSP) para atualizar os casos, mas a pasta não havia retornado os contatos.

O que diz a escola

“A Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica foi surpreendida com denúncias e divulgação em vídeo de maus-tratos a bebês. Há 22 anos a instituição trabalha com educação, sempre em parceria e comunicação com as famílias. Ao longo dessa jornada, a escola formou inúmeras crianças e com muito orgulho fez incontáveis amigos. Na Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica os nossos alunos sempre tiveram pleno desenvolvimento social e cognitivo, com toda a atenção e cuidado, prezando sempre pelo bem-estar social em um ambiente saudável e construtivo.

A escola, administrada e gerida por, ROBERTA e FERNANDA, que também são mães, compreendem a aflição dos familiares que tiveram as suas vidas e a de seus filhos expostas a essa situação que ressaltamos ser forjada para prejudicar a instituição.

A Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica, assim que tomou ciência do vídeo, enviou um comunicado para todas as famílias. Com total transparência marcou uma reunião com os familiares a fim de esclarecer que as imagens foram feitas dentro da escola, mas em momento algum por ordem e nem aprovação ou conhecimento da direção.

Os representantes da escola foram surpreendidos e ressaltam que tratam-se de imagens feitas sem a anuência, sem consentimento e desconhecidas da pratica escolar. Na mesma reunião foi informado que essa irracionalidade de imagens feitas e divulgadas, nunca, em hipótese alguma, fez parte do dia-adia da instituição. São imagens forjadas que não condizem com a ética, confiabilidade e dedicação ao trabalho que realizam ao longo de mais de duas décadas.

Informamos, que em entrevistas concedidas à imprensa, existem pessoas desconhecidas do núcleo escolar. Além disso, pessoas ouvidas em reportagens, mães de poucos ex-alunos formados na escola, que no passado próximo possuem históricos de elogios e gratidão por parte dos serviços prestados tanto a criança como a família.

Também foi divulgada, nos meios de comunicação, a investigação arquivada sobre o falecimento de uma bebê nas dependências da escola. Esclarecemos que isso não é verídico. Sobre essa triste perda, em 2010, ressaltamos que a criança teve um mal subido em seu primeiro dia de aula, foi socorrida imediatamente para um pronto atendimento de referência da capital e infelizmente veio a falecer no hospital. À época a causa da morte foi “síndrome da morte súbita do lactente (SMSL)”, quando o bebê morre sem causa aparente, foi prestada assistência e apoio em todo momento aos familiares e cooperação nas investigações e o caso foi arquivado.

Informamos que, por medida de segurança, por seus representantes estarem recebendo ameaças de morte a todo instante, a Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica ME suspendeu as atividades temporariamente. Como família, porque é assim que a escola estabelece a relação com seus alunos e familiares, está em colaboração total com as investigações. Mais do que ninguém a instituição quer saber o propósito dessas acusações incabíveis, inverídicas e aterrorizantes em que foram expostas.

A escola foi “condenada”, antes das averiguações policiais e das investigações cabíveis. Sem uma comprovação confiável está sendo acusada cruelmente e injustamente. A Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica acredita, sobretudo, na justiça dos homens e fielmente na justiça de Deus. Até lá está à disposição para cooperar com todos os tramites judiciais para que seja esclarecido, na verdade absoluta, esse caso sem precedentes, que choca profundamente seus representantes, familiares e sociedade”.

Fonte: g1

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