Receitas para educar

José Renato Nalini
José Renato Nalini

*José Renato Nalini

            A convicção de que a educação é a chave para resolver todos os problemas brasileiros, sem exceção, é cada vez mais firme. Basta verificar a origem das gravíssimas crises pelas quais o Brasil está a passar. Educação de qualidade levaria a melhores escolhas nesse combalido sistema de Democracia Representativa que é oferecido à cidadania. Isso evitaria grande parte dos ataques ao Erário, pois uma população educada estaria atenta aos desmandos de seus representantes.

            Educação de qualidade faria o povo sair às ruas em defesa do patrimônio ambiental, que está sendo dilapidado. Não suportaria a ignorância tosca de se atribuir a preocupação do mundo civilizado a uma vulneração ao desgastado conceito de soberania nacional. O interesse por zelar por esse patrimônio é de todos os brasileiros, até daqueles que ainda não nasceram e que vão encontrar um país bem mais pobre do que o do nosso tempo.

            Povo educado exigiria saneamento básico, melhor destino para as polpudas verbas arrancadas à pobreza, por um sistema tributário iníquo e burro. Não permitiria o carnaval de emendas eleiçoeiras num orçamento fragilizado pela paralisação da atividade econômica, fruto de imprevisão, incompetência e, por que não dizer – má fé, na condução das providências estatais para debelar a pandemia.

            Por isso a educação tem de ser tema central, ao lado do mais urgente – zerar já, não em 2030, o desmatamento da Amazônia. Em 2030 já não existirá o que ser preservado. O recado de “soltar a boiada” foi seguido à risca pelos criminosos que exterminam o verde, envenenam os rios ao garimparem terras indígenas e falsificam guias para dizer que a madeira destinada à exportação provém de áreas liberadas. Basta olhar o que foi feito do verde paraense para sequer precisar desmentir os inescrupulosos ecocidas.

            E qual a educação de que o Brasil precisa?

            Assim como ocorreu um tempo com o futebol, nossa Pátria dispõe de milhares de especialistas. Muitos deles não enfrentam a sala de aula. Elaboram teorias, querem fazer consultoria – e o governo paga, em busca de rankings – e promovem seminários, congressos, simpósios e, nesta temporada, incontáveis lives. Livros, ensaios, teses, dissertações e obras coletivas. Tudo para mostrar como se deve educar uma criança.

            O problema não é a falta de diagnósticos. O problema é a preservação de uma visão antiquada do que seja educar. As crianças de hoje são millenials. Nasceram já com chips da disruptiva profunda mutação gerada pela Quarta Revolução Industrial. Não suportam as aulas expositivas de cinquenta minutos, com a repetição de conteúdos que encontram instantaneamente online. Não nos esqueçamos de que o Brasil tem quase trezentos milhões de mobiles. Muitos de nós possuímos mais de um. O acesso à informação é imediato e fornece dados atualizados, coloridos, musicais e animados.

            A pandemia mostrou que o uso das tecnologias deveria ter sido iniciado há muito mais tempo. Mas é mais fácil manter a inércia. Mudar traumatiza. Como pensar em capacitar os professores para que sejam indutores da curiosidade do educando, para que saibam filtrar o excesso de dados disponíveis e os transforme em conhecimento.

            Há muita controvérsia sobre o que vai gerar um bom produto da escola. Alguém com capacidade de exercer autonomia, de praticar a cidadania, que é o direito a ter direitos, com capacidade crítica e vontade de mudar o mundo. Sendo feliz dentro dele!

            Isaiah Berlin, falando sobre educação, foi muito claro: “A mera proliferação de remédios é um sintoma da realidade da doença”.

            É o que vivemos hoje em nossa turbulenta era. Governo mostra que educação é gasto, não investimento. Por sinal, educação é algo muito sério para se deixar sob a exclusiva responsabilidade do governo. Este só pensa em eleição e no castigo que tem sido para o Brasil, a reeleição.

            A família tem de intervir e com garra e vontade. Até para o homeschooling, tão criticado. A considerar certas escolas, o lar pode formar melhor a sua prole. Mas também é preciso investir nas escolas confessionais, nas militares, nas que seguem Montessori, Piaget, Anísio Teixeira, Paulo Freire e outras linhas pedagógicas.

            A humanidade é plural. Pluralismo é um dos princípios insertos na Constituição da República. Todas as vias devem ser percorridas, cada qual com sua filosofia, seus métodos e seus critérios. O que interessa é produzir pessoas aptas ao discernimento. Só assim o Brasil terá vez, se também investir numa Democracia Participativa e deixar o falido modelo que aqui se pratica de Democracia representativa.

            Aos pais se deve reservar a seleção do modelo que mais lhes convenha. E às escolas, mostrarem, pelos resultados, quais as que merecem guarida nos lares brasileiros.

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.   

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