Ainda ontem, transitando pelas ruas de minha cidade, reparava na origem bíblica presente na denominação da maioria de suas panificadoras. De uma forma ou outra, faziam referência ao mistério eucarístico, quando Jesus reiterou de várias maneiras ser Ele o novo alimento, o pão vivo, o pão da vida, pão do céu, novo maná, alimento dos anjos, mistério da fé, pão do banquete, pão de cada dia… e por aí vai. E nessa onda, muitos estabelecimentos se auto denominam como tais. Nada contra, apenas uma constatação.
Como também normal é o nome bíblico que personifica muitos cristãos em suas pias batismais. De José a Maria, João, Tiago, apóstolos e profetas, reis e guerreiros, é quase infinita a gama de possibilidades dos nomes que a Bíblia oferece a seus leitores, fiéis ou simples admiradores, religiosos ou não.
Da mesma forma, há na Bíblia páginas inspiradoras para enlevar o espírito do mais simples poeta ou dos grandes enamorados que buscam palavras de galanteios às suas musas. “Ah! Beija-me com os beijos da tua boca! Porque os teus amores são mais deliciosos que o vinho”, cantaria Salomão já no preâmbulo de seu apaixonado livro Cântico dos Cânticos.
Para os que buscam maiores sintonias com o divino, nada mais eficiente do que uma atitude de oração. Até os poderosos sentem essa necessidade, essa força que a sintonia com o Desconhecido, no caso Aquele que é, pode lhes proporcionar. Davi descobriu e demonstrou essa sua sintonia ao escrever os Salmos. E proclamar: “O Senhor tem seu trono no céu. Sua vista está atenta. Seus olhares observam os filhos dos homens. O Senhor sonda o justo como o ímpio” (Sl 10,4-5). Mesmo rei, Davi respeitava a onisciência de Deus.
Diante das injustiças da humanidade descrente, as leis eclesiásticas recordam a Justiça maior, aquela que vem do alto. Neste aspecto, juristas e advogados têm na Bíblia um vasto manancial de consulta. Nenhuma justiça será plena e verdadeira sem as arestas da lei divina, aquela que flui do coração do Pai e se revela nas páginas do seu livro. “Tudo isso é o livro da vida, a aliança do Altíssimo e o conhecimento da verdade. Moisés deu-nos a lei com os preceitos da justiça… (Ecle 24, 32-33).
Aos que teimam em arrotar sabedoria diante dos homens, sem o conhecimento da verdadeira Sabedoria, “um belo dia nascemos e depois disso, seremos como se jamais tivéssemos sido”!, diz o livro que põe a pique a sabedoria humana diante de Deus. E nos lembra: “Com o tempo nosso nome cairá no esquecimento, e ninguém se lembrará de nossas obras (2,4)” ou admoesta aos que governam ou pensam governar um povo: “Se pois cetros e tronos vos agradam, ó vós que governais os povos, honrai a Sabedoria, e reinareis eternamente” (6,210.
Mas se é culto o seu pensar e a filosofia da vida preenche seus dias, com um olhar mais profundo sobre os mistérios dos nossos dias e o sentido destes, eis que uma lista de Provérbios há de consolar seu espírito insaciável, que busca respostas e não as tem com clareza. “Ouve, meu filho, recebe minhas palavras e se multiplicarão os anos de sua vida (4,10). “Recebei a instrução e não o dinheiro. Preferi a ciência ao fino ouro” (8,10) “Vale mais o pouco com o temor do Senhor, que um grande tesouro com inquietação” (15,16).
Como vemos, a Bíblia é, verdadeiramente um alimento de palavras. Tornou-se a Palavra de Deus; em Cristo, a Palavra Revelada. “Porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo” Disseram-lhe: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!” (Jo 6, 33-34).