Por Davi Ortiz*
Colaboração para o JC
Pela primeira vez em copas, seleções que dividem o Estreito de Gibraltar se enfrentam com final feliz para os africanos
Na última vez que os marroquinos foram para as oitavas da Copa do Mundo, os craques africano, Hakimi e Zieych, nem eram nascidos. Em 1986, no México, a Seleção de Marrocos foi eliminada pela Alemanha de Matthäus, que marcou o único gol da partida aos 88 minutos, e mandou para casa os Leões do Atlas.
Desde então, a estrela da camisa vermelha de Marrocos ficou discreta nas copas, eliminações na fase de grupos em 1994, 1998 e 2018. Foram 36 anos para que ela voltasse a brilhar. Em 2022, uma campanha histórica colocou os Belgas, de De Bruyne, Lukaku, Hazard e companhia para trás, além da atual vice-campeã, Croácia, em segundo lugar do grupo.
Sete pontos, 4 gols marcados e apenas 1 sofrido colocaram Marrocos do lado mais difícil da chave. De cara, a Espanha de Gavi, Pedri, Olmo comandada pelo experiente Luiz Enrique. Uma das favoritas ao título, a seleção dos 1.000 passes, o elenco que reviveu o tiki taka, o time com “o melhor futebol”.
Mas a Copa é maravilhosa, colocou o melhor ataque contra a melhor defesa. O desenho do jogo seguiu fielmente ao script, assim como já havia feito contra Costa Rica, Alemanha e Japão, a fúria trocou passes e impôs a vantagem da posse de bola, 76% contra apenas 24% da seleção africana.
Mas quem se atenta a estatísticas não aproveita o melhor do futebol, um esporte que é difícil apontar favoritos, ainda mais em uma competição como a Copa do Mundo.
Em chances de gols, as duas equipes não deixaram a desejar. Os marroquinos usaram da velocidade de Hakimi e Zieych para contra-atacar os espanhóis, o time africano teve boas chances, principalmente, naquelas que foram o algoz belga: bola parada.
Por outro lado, a Espanha não conseguiu converter a vantagem da posse em chances de gol. Ainda no primeiro tempo, o time de Luis Enrique teve sua melhor chance na falha de Bounou, que saiu jogando errado e entregou a bola para os espanhóis. Ainda no lance, o arqueiro se redimiu com uma bela defesa, mas o lance já estava parado por impedimento de Ferrán Torres.
O segundo tempo foi mais travado, um jogo técnico, onde a Espanha rodava a bola em frente da meta marroquina, mas não conseguia encontrar o espaços para chutar. A estatística de passes só aumentavam, enquanto a seleção não conseguia tirar o zero do placar. Destaque também para o meia Sofyan Amrabat, que defendeu a meta do time africano como um verdadeiro leão.
Mas as chances de matar o jogo não faltaram para a Espanha. No final da prorrogação, Morata preferiu tocar para Ansu Fatti, que testar o goleiro Bounou. E, praticamente no último lance do jogo, Sarabia ficou livre, chapou a bola com o pé direito e acertou a trave, para liberar o grito de alívio dos torcedores marroquinos, que lotaram o estádio Cidade Educação.
O empate sem gols levou os dois times para a disputa de pênaltis. A seleção africana cresceu junto com sua torcida e o nervosismo tomou conta do lado espanhol. Os ‘rojos’ perderam 3 das 4 penalidades disputadas em Copas, a última uma dolorosa lembrança da eliminação pelos russos.
No tiro livre não teve favoritismo. Sarabia, que entrou para bater a penalidade, acertou a trave. O lance foi redimido com uma defesa do goleiro Unai Simon que pegou a cobrança de Banoun. Mas o dia era africano, enquanto isso Bounou defendeu as cobranças de Soler e do capitão Sérgio Busquets. E, para fechar o caixão espanhol, Hakimi, que ironicamente é nascido na Espanha, bateu uma cavadinha com classe e mandou “o melhor futebol da copa” mais cedo para o estreito de Gibraltar.
(*) Davi Ortiz é palmitalense e cursa o último semestre do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina