Cruzamento de dados do SP2 mostra ritmo de mortes por dia do novo coronavírus e a média histórica de mortes diárias por outras causas na população paulista.

Novo Coronavírus é a quinta doença que mais mata diariamente em SP
O novo coronavírus pode ser considerado a quinta causa mais letal no estado de São Paulo, à frente de todos os tipos de câncer, dos acidentes de transporte, da diabetes e de doenças por hipertensão.
Entre 17 de março, quando foi confirmada a primeira morte no estado de São Paulo, e esta quarta-feira (22), a Covid-19 mantém uma média de 30 mortes por dia. Já são 1.134 óbitos confirmados.
A reportagem do SP2 cruzou as informações sobre mortes confirmadas por Covid-19 neste ano e a média diária de mortes pelas demais causas entre 2008 e 2019, disponíveis no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), mantido pelo Datasus e alimentado pelos estados.
Como cada unidade da federação tem o prazo de um ano e meio para inserir as informações, e os dados referentes a 2018 e 2019 ainda são preliminares e passíveis de alterações, São Paulo é um dos estados considerados mais ágeis nessa atualização. As informações referentes a 2019 foram divulgadas no início de abril.
Nos últimos 12 anos, a classificação de doença que mais tirou a vida nos municípios paulistas foram as chamadas “doenças isquêmicas do coração”. Em média, quase 80 pessoas morrem todos os dias por causa delas. Dessas, cerca de 59 morrem de infarto agudo do miocárdio, a principal doença isquêmica.
As doenças cerebrovasculares, como o acidente vascular cerebral (AVC) e o aneurisma, também deixaram quase 59 mortos por dia, em média, no mesmo período.
A pneumonia matou 56 por dia, em média. E a soma de outras doenças cardíacas dão uma média diária de 50 mortos.
Abaixo dessas doenças, nenhuma matou tanto por dia como a média que a Covid-19 tem mantido nos últimos 36 dias.
Passageiro com suspeita de coronavírus é atendido por equipe médica em Guarulhos, SP — Foto: Andre Penner/AP
Média não considera os óbitos suspeitos
Segundo Zilda Pereira da Silva, professora de estatísticas da saúde na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), os dados indicam um risco de mortalidade importante da Covid-19 frente às outras doenças.
“Se a gente levar em consideração que nós temos ainda vários óbitos que ainda estão como suspeitos, aguardando a confirmação que ocorreram por conta da Covid-19, com essa solução, praticamente a gente vai ter uma correção desses números”, afirmou.
“E essa mortalidade, essa posição que a gente tem aqui nesse ranking, vai subir. Então vai mostrar que a Covid, entre as causas de óbitos aqui do estado de São Paulo, vai assumir uma importância cada vez maior com essa correção”, continuou a professora.
O pneumologista Elie Fiss, que trabalha no Hospital Alemão Oswaldo Cruz e é professor da Faculdade de Medicina do ABC, ressalta ainda que o ritmo ainda pequeno de testes processados acaba retardando a computação dos números efetivos de doentes que já morreram pela doença. “Então talvez esse número seja maior e maior num curto espaço de tempo”, explicou ele.
Pessoas usam máscara de proteção como medida de combate a disseminação do novo coronavírus (covid-19), na região central de São Paulo — Foto: NELSON ANTOINE/ESTADÃO CONTEÚDO
Covid, outras gripes e a pneumonia
A pneumonia, uma das doenças que mais matam no estado e no Brasil, mantém uma relação direta com os vírus e bactérias. Segundo Fiss, um paciente infectado com o novo coronavírus, com algum vírus da Influenza ou alguma bactéria pode ter o quadro agravado e evoluir para a pneumonia.
“Além disso, o paciente acamado por muito tempo pode evoluir para uma pneumonia. E no final a causa de óbito foi uma pneumonia”, disse ele.
Entre 2008 e 2019, a média de mortes por pneumonia no estado foi de cerca de 20 mil por ano. Já as mortes de Influenza ficaram em cerca de 180 por ano. Mas uma parte indeterminada de mortes por pneumonia foi provocada pela infecção prévia de um vírus gripal – como ocorre agora com o novo coronavírus.
Um dos motivos, segundo o pneumologista Elie Fiss, é o número de bactérias que provocam a doença. “Temos dezenas de bactérias diferentes que podem causar pneumonias e acabam não sendo identificadas. Não é por falta, é porque não existe maneira mesmo”, explicou, ressaltando que, embora o comportamento da pneumonia provocada por vírus gripais seja sazonal, piorando nos meses de outono e inverno, a pneumonia bacteriana ocorre durante o ano inteiro.
Fiss ressalta que, mesmo que o período de cálculo seja diferente (36 dias, para a Covid, e todos os dias do ano para as demais doenças já conhecidas da sociedade), a comparação aproximada já demonstra o alto grau de mortalidade do novo coronavírus. Os dados mostram, por exemplo, que todos os demais vírus ou doenças bacterianas provocaram cerca de 10 mortes por dia entre 2008 e 2019, o que representa um terço da média atual a Covid-19.
“Eu vou reforçar: a Covid está presente no nosso meio há cerca de três meses, enquanto a pneumonia está no nosso meio todos os dias há muitos anos, há séculos”, concluiu Elie Fiss.
Fonte: G1