Bandaid na fratura – José Renato Nalini

Um dos efeitos das mudanças climáticas é a elevação do nível do mar. Derretem as calotas polares, o gelo é água e o mar avança. Isso já chegou ao Brasil e, em lugar de se enfrentar a crise de frente, com os remédios que todos conhecem, os governos adotam paliativas.

É preciso encarar as causas, não os efeitos. As causas do aquecimento global são a emissão dos gases produtores do efeito-estufa, o desmatamento e a excessiva produção de resíduos sólidos. A descarbonização caminha lentamente, porque envolve inúmeras questões. Erigiu-se uma civilização baseada no automóvel. A implementação dos modelos elétricos encontra barreiras criadas pelo próprio governo. Há uma taxação do carro elétrico superior à do carro em combustão. Quando o primeiro não emite CO2 e o segundo sim.

O desmatamento é um câncer que continua a corroer as entranhas brasileiras, qual metástase. Em todos os biomas. Inclusive na nossa Mata Atlântica, da qual existe mínimo resíduo, quase todo em mãos particulares. E a produção de lixo é próspera. Proporcional à falta de educação de qualidade, que faria com que a própria população cuidasse de seus descartes.

Mas o que é que algumas prefeituras de cidades da orla estão fazendo? Alargando as praias. Como se fosse fácil “brincar de Deus”. Fazer praias mais largas do que as que Ele nos ofertou.

Uma vez mais, os cientistas advertem: essa resposta à elevação do nível do mar é falaciosa. Draga-se o fundo do mar, que tem uma biodiversidade ainda ignorada até mesmo pela Universidade. Ali também repousam poluentes, cistos de algas que produzem a maré vermelha. O aviso foi dado. Alguém prestou atenção nele?

A maré vermelha tem acontecido com frequência no litoral brasileiro. É um fenômeno causado pela proliferação excessiva de algas, principalmente as espécies tóxicas. Muitos banhistas sofrem com o contato com essas algas. Tudo isso não tem motivado as municipalidades a repensarem o seu método de combate à elevação do nível do mar.

Aguarde-se desdobramento dessa história. Prejuízos para a pesca, prejuízos para a biodiversidade e, ao final, o mar voltará a retomar o que é seu. É colocar bandaid na fratura. Quem acha que dá certo?

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

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