Data magna da negritude

Uma fala emblemática da escritora afro-brasileira Conceição Evaristo, sobre seu orgulho de pertencer à descendência que ajudou a construir o Brasil com o trabalho escravo e, que, mesmo muito representativo no espectro populacional, não possui qualquer responsabilidade sobre os desmandos, a criminalidade e o atraso institucional e de desenvolvimento sócio-científico-econômico que vivemos, mostra que esta justa vaidade dos afrodescendentes deve ser respeitada. De fato, se há algo do que os negros não podem ser considerados culpados é do nosso atraso cultural e moral, cuja obra secular pertence com louvor às elites brancas.

O 20 de novembro, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado no Brasil desde 1971, foi formalizado nacionalmente em 2003 como data no calendário escolar, instituído como efeméride comemorativa em 2011 e oficializado feriado nacional em 21 de dezembro de 2023. A conquista, ainda repudiada por significativa parcela da sociedade, é o reconhecimento a um enorme grupo da população brasileira, que pode passar da metade, que aqui chegou escravizado, depois foi emancipado sem reparos e muito menos direitos e que ainda sofre as consequências da discriminação e do preconceito.

“…algo do que os negros não podem ser considerados culpados é do nosso atraso cultural e moral…”    

Representando o grupo que mais cresce no mercado consumidor e que mais ganha espaço no meio social e econômico, os negros brasileiros vivem o dilema do reconhecimento e do respeito a cantores, artistas e jogadores de futebol, e da hostilidade, a rejeição e a exclusão aos mais pobres, que são maioria entre favelados e também presidiários. Distante do acesso à política tradicional, dos cargos decisórios e de comando, os negros ainda pagam com a própria vida, muito mais difícil, pelo atraso a que foram submetidos em seguidas gerações sem acesso à escola, ao conhecimento e muito menos a profissões.

Ao relegar mais da metade da população a cidadãos de segunda classe, sem oportunidades e com menos acesso à informação e à escolaridade, cujas cotas recém-criadas ainda são rejeitadas em vários setores, o país se condena a perder a maior parte do potencial do seu mercado consumidor e produtor de riqueza. Portanto, o Dia Nacional da Consciência Negra não deve ser considerado como forma de homenagear uma parcela da população e muito menos servir como meio de penitência aos erros do passando, mas sim como data magna da conscientização dos brancos quanto ao valor de seus iguais de cor diferente.

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Cláudio Pissolito

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