“…não apenas o saber e o conhecimento são replicados em larga escala pela comunicação digital, como também a estupidez e o obscurantismo.”
A crise sanitária e de saúde pública causada pela pandemia do Novo Coronavírus, somada à polarização político-ideológica que divide a sociedade e acirram divergências e ânimos, estão revelando o perfil sombrio e retrógrado de significativa parte das autoridades públicas, grandes empresários, formadores de opinião, professores e até intelectuais e artistas que demonstram incapacidade de exercer o raciocínio e emitir opiniões com o imprescindível bom senso.
Em vez de buscar o consenso, de observar todas as nuances das questões e de escolher o meio termo, muitos se apoiam no radicalismo, no ódio e na vingança.
O exemplo mais perverso e perigosos é o questionamento da eficácia da vacina contra a Covid-19, uma rejeição insana que se aprofunda.
Como pioneiros na incorporação de diversas vacinas no Sistema Único do Saúde (SUS) e um dos poucos países no mundo que oferece um rol abrangente de imunobiológicos com elevada taxa de cobertura, a procura pelo principal medicamento preventivo a doenças endêmicas está caindo drasticamente.
O movimento retrógrado do negacionismo não é obra de governo, mas de revelação de uma cultura insipiente, de descaso para com a vida e de pouca informação.
Mesmo considerando que os seguidos governos que apostam na divisão da sociedade para alcançar apoio ou popularidade também são responsáveis por incutir ou despertar os sentimentos negativos em seus seguidores, não há como ignorar o manifesto atraso intelectual e cultural existente.
Com pouca informação, reduzida capacidade de decodificação e de expressão e, principalmente, de interpretação, mas com acesso à manifestação da opinião pelo recente domínio das redes sociais, não apenas o saber e o conhecimento são replicados em larga escala pela comunicação digital, como também a estupidez e o obscurantismo.
Essas dificuldades na formação integral dos cidadãos, que se revelam pela incompreensão da pessoa em sua totalidade, pela falta de desenvolvimento pleno de suas potencialidades que torna o sujeito autônomo e responsável por si, pelo outro e pelo ambiente que vive, faz a sociedade incapaz de transcender a mera adaptação social.
Sem boa formação cultural e intelectual nas escolas, sem oferta de conhecimento e experiências mais amplas às pessoas para desenvolver o bom gosto estético e pelo conhecimento, e de mais disciplina e compreensão na vida social, nosso atraso já desnudado vai crescer e prevalecer.