O silêncio dos bons

“Os competentes têm dúvidas, os irresponsáveis têm certezas”

 

A largada antecipada para as eleições de 2020 mostram que, apesar das dificuldades enfrentadas pelos últimos prefeitos, que hoje administram mais despesas do que receitas, ainda existem os que sonham com o cargo espinhoso que, invariavelmente, só leva transtornos àqueles cuja única boa lembrança será apenas uma fotografia na galeria dos ex-prefeitos. Iludidos pela falsa notoriedade dos políticos, que recebem mais críticas do que elogios, alguns ainda desejam alimentar a vaidade pessoal com o cargo.

Como ilustração, vamos lembrar uma fábula de domínio público, sobre um simples súdito convidado a ocupar um cargo importante no Reino onde vivia e, que, com muita dúvida, preferiu consultar o sábio. Questionado por ele se deveria ou não aceitar o convite, o sábio perguntou o motivo da dúvida, quando o súdito falou de suas inseguranças e da incerteza de que seria capaz de desempenhar as funções. Diante da postura humilde do súdito, o sábio imediatamente afirmou que o rapaz deveria sim aceitar a incumbência que lhe fora proposta, pois suas dúvidas e incertezas eram provas de sua responsabilidade e do esforço que faria para oferecer o melhor de suas competências. O sábio assim concluiu a consulta: “Os competentes têm dúvidas, os irresponsáveis têm certezas”.

A verdade desta fábula é comprovada diariamente em todas as atividades humanas, principalmente na política. Com a degradação causada pela sucessão de escândalos de corrupção e da ocupação de muitos cargos por pessoas despreparadas, tanto moralmente como pela incompetência, aqueles que de fato poderiam oferecer a melhor contribuição à sociedade acabam se abstendo da atividade para cuidar da própria vida, de seus negócios e de suas famílias. Não por acaso, a política se tornou sinônimo de atividade indecorosa.

Partindo do princípio que a política é a mais nobre das atividades, considerada como arte de organização, direção e administração de nações ou estados, não se pode e não se deve entregar esse sagrado direito de exercício desta digna atividade a quem de fato não esteja muito bem preparado a exerce-la. Para isso, é preciso cobrar os eleitos e que o eleitor tenha responsabilidade, pois a democracia permite que apenas o sufrágio universal, a escolha pelo voto direto de todos os cidadãos com direito a exerce-lo, seja suficiente para definir os mandatários. Afinal, o que preocupa não é o ruído dos maus, mas sim o silêncio dos bons.

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Cláudio Pissolito

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