Grupo levou ao quartel de Marília (SP) faixas em solidariedade ao policial que aplicou a punição à parlamentar e recebeu ameaças da comandante Márcia Crystal, que pediu licença. Vereadora pode virar alvo de pedido de cassação.
Um grupo de policiais militares de Marília (SP) participou de um protesto pacífico em apoio e solidariedade ao sargento que se envolveu em uma polêmica após sofrer ameaças da tenente-coronal por ter guinchado o carro de uma vereadora da cidade.
A gravação da conversa viralizou e, em meio à polêmica, a tenente-coronel Márcia Crystal, comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar de Marília, anunciou um pedido de licença de 15 dias.
No mesmo dia, a Câmara de Marília protocolou um pedido de abertura de Comissão Processante (CP) feito por um morador para apurar a conduta da vereadora. A expectativa é que essa votação aconteça neste na segunda-feira (31).
O protesto dos policiais em solidariedade ao sargento Alan Fabrício Ferreira, que fez o guinchamento do carro da vereadora por estar com documento vencido, contou com cerca de 20 pessoas, que ficaram por cerca de duas horas em frente à sede do 9º BPM-I com faixas de apoio ao colega, na quinta-feira (27).
Em nota, o comando Polícia Militar no estado informou que “respeita o direito de livre manifestação e a liberdade de expressão de todos os cidadãos”. O texto confirma que o “ato foi pacífico, que durou 10h às 12h15 e foi acompanhado pela PM”.
Polêmica
Depois de conversar com a vereadora, a oficial da PM Márcia Crystal ligou para o policial de trânsito que apreendeu o carro da parlamentar.
Segundo o policial, o veículo foi apreendido porque estava com o licenciamento vencido e pneus gastos. O Comando da PM abriu um inquérito para apurar a conduta dos envolvidos.
A conversa no telefone, na qual a tenente-coronel pede para que o PM não guinche o carro porque Daniela é vereadora e ameaça trocá-lo de função por não ter “bom senso”, viralizou nas redes sociais e causou polêmica na cidade.
Na ligação a que a TV TEM teve acesso, o policial explica que constatou que o carro da vereadora não tinha licenciamento e estava com os pneus gastos, motivo pelo qual decidiu abordar a filha dela, que dirigia o veículo, na Rua Carlos Botelho.
O policial informou, no áudio, que deu a oportunidade para que ela fizesse o pagamento via aplicativo, mas a jovem e o pai, que chegou ao local mais tarde, teriam dito que não tinham condições.
Depois de ouvir a história, a tenente-coronel pede para que o policial não ficasse “tumultuando” e diz que ele deveria ter apenas feito a orientação, sem apreender o carro.
“Porque isso daí é falta de bom senso, tá? Ela é vereadora. É, é, a condição, você pode muito bem estar fazendo e orientando, tá? E aí segunda-feira, ela pegaria o documento e não precisa apreender o veículo”, diz a tenente-coronel no áudio.
Em seguida, a comandante ameaça trocar o policial de setor se ele continuar agindo de tal maneira, já que ele teria desobedecido uma ordem superior.
“Se for desse jeito é o que eu to falando, você não vai estar mais segunda-feira no trânsito (…) porque essa aqui é uma ordem minha, você vai responder também”, continua a tenente coronel.
A conversa continua por mais alguns segundos e a tenente-coronel repete que o policial de trânsito deveria ter tido bom senso ao analisar a situação, já que a mulher é vereadora.
“Olha o que você tá causando, porque politicamente ela é vereadora. Não teve nem uma conversa, o que você está achando que você é?”, questiona no áudio.
O Comando do Policiamento do Interior da região de Bauru (CPI-4), ao qual é subordinado o Batalhão de Marília, informou que o policial que efetuou a apreensão não foi afastado, mas estava matriculado em um curso em São Paulo, agendado para o dia 24 de agosto.
Por causa disso, segundo a PM, ele não vai exercer suas atividades em Marília até a conclusão do curso em 4 de setembro. Depois disso, deve retornar às suas funções habituais.
“Após tomar conhecimento da gravação, o comandante regional instaurou inquérito policial militar para esclarecer todos os fatos que envolveram a apreensão do veículo e as condutas da comandante e do policial militar”, completou a corporação.
A vereadora Professora Daniela se manifestou por meio de nota. Ela disse que, “em nenhum momento seu telefonema para a comandante tenente-coronel Márcia Crystal teve o objetivo de praticar tráfico de influência” e que foi apenas para ver se havia a possibilidade de não ter o veículo apreendido.
Daniela comentou também que “não houve nenhuma indagação para que o referido militar fosse punido ao exercer suas funções” e que ficou preocupada com a filha. Além disso, informou que os pneus não estavam gastos.
Por fim, a vereadora afirmou que concorda com os procedimentos determinados pela legislação de trânsito e que “vai tomar as atitudes jurídicas para o caso, prezando pela verdade e justiça”.
FONTE: G1