Porandubas Políticas – nº 5.826 – Gaudêncio Torquato

Abro com os semáforos, todos juntos.

Os quatro semáforos

Certo prefeito de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais, ao ver nomeado um amigo para comandar o DETRAN, correu a Belo Horizonte, e não se fez de rogado. Foi logo pedindo:

– Amigo, me arranje umas sinaleiras para minha cidade. Vai ser o maior sucesso. Vai ajudar muito a minha popularidade.

O diretor, tomado de surpresa, ante tão inusitado pedido, procurou administrar a euforia do prefeito, mas não tinha como escapar à pressão:

– Compadre, está difícil arrumar esses aparelhos. Tenho de fazer uma grande reforma aqui na capital. Mas vou me esforçar para lhe arrumar quatro semáforos. Mas, por favor, não espalhe. Insisto: não espalhe.

E assim foi. Ao chegar a Santa Rita, um mês depois da entrega, ficou embasbacado. Viu os quatro semáforos colocados no mesmo lugar: o centro da cidade. Perguntou ao alcaide: “por que você mandou colocar todos eles naquele lugar”?

Sorriso no canto da boca, o prefeito respondeu:

– Ora, compadre, você esqueceu? Me lembro bem: você bem que me pediu para não espalhar os faróis.

  • Parte I – O Brasil das promessas

Discurso eleitoral

Não desviemos os ouvidos do tom dos discursos. Estamos em pleno ano eleitoral. Em outubro, vamos eleger 5.700 prefeitos, a maior coleção de prefeitos de nossa história. Portanto, vamos ter de ouvir uma batelada de promessas. A maior cascata de promessas de todos os naipes, bastando olhar para as candidaturas que povoarão o espaço nacional. Começo com um pedido. Senhores que serão candidatos, por favor, tenham pena de nós. Não abusem de nossa paciência, nem se esforcem para nos fazer de otários. Não prometam aquilo que não poderão cumprir. Não exagerem nas promessas. Afinal de contas, quem promete o céu sem ensinar o caminho, pode acabar caindo nas garras do inferno.

O caleidoscópio

Não é preciso ir longe para se saber o que a sociedade quer. Basta captar o senso comum, que está a um palmo dos nossos sentidos. É claro que a população quer que os candidatos se empenhem ao máximo para oferecer as melhores propostas e os modos mais adequados de realizá-las. Dispensa, porém, a demagogia, os programas mirabolantes, as extravagâncias, as fórmulas mágicas e os coelhos tirados da cartola, que se sabe, são artimanhas de ilusionistas do mundo circense. Pontes, viadutos, estradas vicinais, postos de saúde, escolas municipais, creches, transporte escolar e até segurança pública (função do Estado) estarão presentes no caleidoscópio de promessas. Mas, e o povo, o que quer?

Dinheiro no bolso

O povo quer, sim, que a moeda entre no bolso, garantindo o poder de compra do consumidor. Função da estabilidade da economia, a cargo do poder Federal (leia-se Lula, Haddad e companhia, grandes eleitores de outubro). Que isso seja feito de modo a não criar atropelos, calotes, percalços e sustos em nossas precárias reservas. O país que todos desejam deveria oferecer muitas possibilidades de empregos, sem restrição de idade e classe, diminuindo as angústias das milhares de famílias desempregadas. Sabemos que isso implica plena carga na produção, com o incentivo aos setores da economia desmotivados. Que se baixem os juros e se diminuam os impostos, fazendo-se com que mais gente pague, mas pague menos. Justiça fiscal, é isso que se prega. Vejam que o eleitor quer muitas coisas que dependem do governo Federal.

Segurança

O povo quer, sim, segurança, mas um sistema preventivo e ostensivo que se faça respeitar pela força da autoridade, pela disposição dos efetivos motivados e pela certeza de que os criminosos serão condenados e submetidos aos rigores da lei. Ao contrário, longe de nós a segurança que causa insegurança, pela ação maléfica e contaminada de quadros policiais mancomunados com as gangues. Nesses tempos de milícias, que o poder público tenha condições de sustar o poder informal. E que consiga garantir a segurança máxima das cadeias.

Não à carnificina

O povo não quer o aparato que se inspira na carnificina, da mortandade em sequência (na baixada santista os mortos vítimas da polícia do governo Tarcísio de Freitas atingem número assustador). Urge arquivar o slogan “bandido bom é bandido morto”. Sabemos que essa cultura é fonte da própria violência que se perpetua nos cárceres. Como seria civilizado dispormos de espaços seguros em todas as partes, inclusive nos empreendimentos turísticos, onde se avolumam as mortes de crianças e adolescentes por falta de equipamentos adequados e orientação condizente nos parques de lazer.

Educação de base

O povo quer, sim, uma educação forte de base, com todas as crianças em escolas bem aparelhadas, recebendo lições de cultura e vida, sem medo das infiltrações das drogas. Os nossos professores, motivados, com salários decentes, seriam respeitados como os guias espirituais de uma sociedade destinada a um grande destino. O sentimento do povo apela por uma Universidade, onde greves por carências de professores sejam apenas tênues ecos de um passado retrógrado. Os pais querem festejar o fato de que não há mais docentes que finjam dar aulas e discentes que finjam assisti-las. Os pais querem, sim, que a nossa juventude redescubra a alegria do lazer saudável, dos esportes, da política estudantil voltada para a construção de valores e ideais.

Saúde de qualidade

O povo exige, sim, um sistema de saúde, onde os estabelecimentos limpos e aparelhados afastem por completo o medo da infecção hospitalar. Mais: que os profissionais, preparados e acolhedores, em quantidade adequada, não façam os doentes esperar em filas quilométricas. E que o processo de cura seja facilitado por remédios baratos e à disposição de todas as classes sociais.

Satisfação no trabalho

O povo defende, sim, que os profissionais liberais de nosso país reencontrem a satisfação no trabalho, cobrando justos preços, atendendo de maneira exemplar os seus clientes, irmanando-se ao ideal da solidariedade e do humanismo.

Menos burocracia

O povo quer, sim, que haja menos burocracia na administração governamental, menos regulamentos, melhores e mais ágeis serviços, aproximando-se a esfera pública do cotidiano dos cidadãos.

Melhor Justiça

O anseio popular é por melhor Justiça, que significa mais agilidade nos processos, imparcialidade nas decisões e rigoroso cumprimento da lei. A comunidade espera carregar em seus corações a certeza de que, no país, a lei é para todos, sem distinção de cor, raça e gênero. Como seria bom se os nossos políticos prestassem contas dos compromissos assumidos, não se aproximando dos eleitores apenas nos períodos eleitorais.

O ideal coletivo

O povo quer, sim, governos compromissados com o ideal coletivo, menos sujeitos às pressões fisiológicas, menos aferrados ao utilitarismo monetarista, e mais plurais na forma de contemplar as demandas sociais, na capacidade de entender as dimensões e problemas das unidades federativas e na disposição de exercer as funções constitucionais.

Os valores

A ordem, o respeito, a autoridade, a disciplina, o zelo são valores intrínsecos ao escopo institucional. Infelizmente, estão sendo atropelados pela irresponsabilidade de maus administradores, corruptos e apaniguados. Urge resgatar a escala de valores a fim de se poder reconquistar a crença dos cidadãos nos símbolos da Nação.

A verdade

Olhar olho no olho, sem temer a verdade; enfrentar as situações com disposição; jogar aberto, não tergiversar; assumir o sentido da autoridade; fazer cumprir a lei; punir os culpados; exercer com altanaria as altas funções públicas – são esses alguns preceitos que o povo quer ver aplicados. Para respeitar, o cidadão quer ser respeitado; para assumir responsabilidades, quer ver exemplos dignificantes de cima. No fundo, o que ele quer é ver replantada a semente de suas mais altas esperanças, resgatando as velhas utopias de tempos idos.

  • Parte II

Raspando o tacho

– Elon Musk, o bilionário, quer algazarra com suas leviandades dirigidas ao ministro Alexandre de Moraes e ao próprio STF. Quanto maior a repercussão de suas diatribes, maior a visibilidade para sua rede X, o antigo Twitter.

– O ministro Alexandre assume a imagem de delegado da maior delegacia do país. Com direito à glória midiática.

– Lula tirou um sarro de Musk, ao dizer que o bilionário dos foguetes tem de aprender a viver aqui. Como? A não ser que o homem da Tesla decida por vontade própria habitar em nossos trópicos. Coisa mais inviável que a hipótese de que o sol não nascerá amanhã.

– Na novela da Petrobras, Jean-Paul Prates está sendo “queimado” por suas qualidades, não por seus defeitos.

– Tem sido ele um fiel apóstolo de Luiz Inácio.

– O prefeito Ricardo Nunes, de São Paulo, precisa acelerar esse programa de recapeamento, evitando entrar no segundo semestre com o barulho de máquinas tumultuando o trânsito.

– O aparato legal para as redes sociais se faz necessário para evitar uma “terra de ninguém”, onde cada um se sente apto a atirar contra outros. A lei é necessária.

– E o déficit zero, hein, Haddad? Bonita estamparia, hein, Fernandinho?

– Nísia, a ministra da Saúde, fala com alma, segundo Lula. Um acarinhamento para quem estava sendo triturada há duas semanas.

– Vem reforma ministerial por aí? Nem Lula sabe.

– A rede X diz que vai reabilitar perfis dela retirados. Quero ver. Sem pagar, claro.

– O calor, pouco a pouco, está sendo mais leve no Sudeste. Porém, sufocante no Nordeste. La Niña.

Fecho

Para combinar com a parte I da coluna, fecho com uma historinha encaminhada por um eleitor do Paraná.

Candidatos de duas famílias disputavam a prefeitura de uma pequena cidade. Final de campanha. A combinação era de que os dois candidatos e seus familiares teriam de usar o mesmo palanque. Discursou, primeiro, o candidato que tinha 70% de preferência dos votos:

Povo da minha amada terra, povo ordeiro, trabalhador, religioso e cumpridor de suas obrigações. Se eleito, irei resolver o problema de falta de água e de coleta de esgoto. Farei das nossas escolas as melhores da região, educação em tempo integral. Vou construir uma escola técnica do município…

E arrematou:

E tem mais, meus amigos, ordeiros, religiosos e cumpridores de seus deveres morais, vocês não devem votar no meu adversário. Ele não respeita nossa gente, nossas famílias, nossos costumes! Ele desrespeita nossa igreja. Ele nem se dá ao respeito. Vocês não devem votar nele. Porque ele tem duas mulheres.

O adversário, com 20% de intenção de voto, quase enfartou quando viu a mulher, ao seu lado, cair no palanque. Ela não aguentara ouvir a denúncia do adversário de que o marido tinha uma amante. A desordem ganhou o palanque. A multidão aplaudia o candidato favorito e vaiava o adversário. Cabos eleitorais começaram a se engalfinhar. Passado o susto, com muita dificuldade, o estonteado candidato acusado de ter duas mulheres começa seu discurso, depois de constatar que a esposa estava melhor:

Meu amado povo, de bons costumes e moral ilibada, religioso e cumpridor de seus deveres morais, éticos e religiosos. Quero dizer aos senhores e senhoras aqui presentes, que, se agraciado com seus votos me tornar o prefeito desta cidade, farei uma mudança de verdade. Não só resolverei o problema da falta de água, como farei também o tratamento de todo o esgoto do município, construirei uma escola técnica e um novo hospital!

A massa caçoava do coitado e de sua mulher. Foi em frente:

Vou melhorar o salário dos professores, a merenda das crianças e ainda vou instituir o Bolsa Cidadão! Agora, prestem bem atenção. Se os amigos acharem que não podem votar em mim porque tenho duas mulheres, votem no meu adversário! Mas saibam que a mulher dele tem dois maridos. A galera veio abaixo. O pau comeu. Brigalhada geral. Urnas abertas. O candidato corno perdeu: 76% para o adúltero.

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Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.

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A coluna Porandubas Políticas, integrante do site Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada pelo respeitado jornalista Gaudêncio Torquato, e atualizada semanalmente com as mais exclusivas informações do cenário político nacional.

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