Desinformação é negócio que movimenta muito dinheiro e tem influenciado a escolha dos eleitores em vários países
Produtores de conteúdo mentiroso, empresas especializadas em disparos em massa, plataformas de redes sociais, robôs, inteligência artificial, algoritmos e muito dinheiro. As fake news são hoje um produto fabricado numa cadeia de produção com ferramentas sofisticadas e que se tornaram um negócio milionário. Eleitoras e eleitores precisam estar cada vez mais atentos para não “comprar gato por lebre”, já que essa indústria tem abastecido campanhas eleitorais em vários países.
De acordo com o especialista em direito digital e juiz substituto do TRE-SP Diogo Rais, é preciso “seguir o dinheiro”. Ele defende uma regulamentação dos disparos ilegais em massa efetuados por empresas. “Se atacarmos os negócios criminosos e maliciosos, temos mais chance de ter sucesso do que controlando se o meme que aquela pessoa compartilhou é verdadeiro ou falso.”
O advogado Ronaldo Lemos, especialista em tecnologia e inovação, tem estudado o funcionamento dos bots (abreviação de “robots”, robôs em inglês) e como eles interferiram em eleições, como as de 2016 nos Estados Unidos, de 2017 na França e de 2018 no Brasil. “Desde a primeira eleição do Macron, já havia uma presença surpreendente de robôs participando do debate eleitoral na França. De lá para cá, a situação piorou muito. Vimos na eleição do Trump, inclusive com alegações de que robôs retuitavam mensagens do próprio Trump”, ressalta.
Ainda segundo Ronaldo Lemos, 47% do tráfego da internet é gerado por robôs, e 2025 deve ser o primeiro ano em que esse tráfego automatizado na rede vai ser maior que o de humanos. A previsão é que, dentro de 5 anos, 99% do conteúdo postado seja gerado por IA.
Empresas especializadas em redes de coleta de informações faturam alto nessa indústria. Já os chamados data brokers compram, compilam e vendem dados de internautas para serem usados em publicidade direcionada e fraudes. “Cada um de nós tem seu perfil traçado por essas empresas, que sabem o conteúdo que você buscou, o seriado que assistiu”, diz o advogado.
Outro elo nessa cadeia, as organizações especializadas em impulsionamento trabalham com equipamentos chamados chipeiras, que têm capacidade de disparar mensagens para milhões de pessoas. Esses aparelhos utilizam um grande número de chips de celular, muitas vezes milhares de números, que se conectam aos grupos de Whatsapp e vão cultivando relacionamentos com contas reais. Isso faz com que consigam amplificar o alcance dos conteúdos. E esse serviço é vendido ilegalmente a campanhas eleitorais.
Os criadores de fake news utilizam também os algoritmos das plataformas de redes sociais para ampliar a repercussão. O conteúdo é direcionado a perfis mais suscetíveis a acreditar naquelas ideias. Dessa forma, as pessoas são expostas sempre às mesmas ideias, e a desinformação acaba por reforçar e radicalizar o pensamento de um grupo.
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Segundo a secretária de Comunicação Social do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP), Eliana Passarelli, o órgão tem total clareza de que a educação midiática é algo muito importante no cenário de desinformação em que vivemos. “É um trabalho de longo prazo, extremamente necessário. Nas nossas redes sociais, procuramos alertar as pessoas sobre a importância de saber a origem da informação, desconfiar de títulos bombásticos e questionar o que está por trás da notícia.” O TRE-SP também mantém em seu site a página Verifica TRE-SP, dedicada à checagem de fake news relacionadas à atuação da Justiça Eleitoral e às eleições paulistas.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem implementado diversas iniciativas voltadas ao enfrentamento à desinformação, como o Fato ou Boato, o Sistema de Alertas de Desinformação Eleitoral (Siade)e o Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia (Ciedde).
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral de SP – Contato imprensa@tre-sp.jus.br