A crescente presença de imigrantes menonitas na floresta amazônica do Peru tem gerado preocupações ambientais significativas. Menonita é o termo utilizado para um grupo religioso que baseia seus costumes no Século XVI, durante a Reforma Protestante, e que também fundamenta sua fé.
Desde a chegada dos primeiros grupos em 2017, estima-se que esses assentamentos tenham desmatado cerca de sete mil hectares de floresta. As colônias menonitas, inicialmente formadas por barracas improvisadas, hoje contam com aproximadamente 150 famílias, uma igreja que também funciona como escola e uma fábrica de queijo.
Essas colônias fundamentalistas, que se espalharam por diversos países da América Latina desde que migraram do Canadá há cerca de um século, buscam manter um estilo de vida agrícola austero e afastado das influências modernas.
No entanto, os menonitas afirmam que o desmatamento realizado por eles é mínimo em comparação com a vasta extensão da floresta. “Cada colônia desmata um pouco da floresta, mas é muito pouco”, declarou Peter Dyck, líder da colônia de Providencia.
As investigações conduzidas pelas autoridades peruanas, lideradas pelo Ministério do Meio Ambiente, buscam entender a magnitude das operações.
Jorge Guzmán, representante do ministério, destaca que o desmatamento realizado pelos menonitas ocorreu em áreas de floresta virgem, sem as devidas licenças, o que exige regulamentação que esses novos moradores ainda não possuem.
Vale destacar que, além das graves acusações de desmatamento, os menonitas também enfrentam acusações de abusos sexuais sistemáticos.
Em Manitoba, uma colônia menonita na Bolívia, onde os moradores rejeitam a modernidade, um grupo de homens foi preso em 2009 e posteriormente condenado, em 2019, por estupro e abuso sexual de 151 mulheres e meninas, incluindo crianças pequenas.
Esse caso inspirou o livro “Entre Mulheres”, de Miriam Toews, que foi adaptado para o cinema em 2022, com o mesmo título, e venceu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2023. O filme denuncia os abusos ocorridos nessas pequenas comunidades cristãs.
Mas como eles chegaram ao Brasil?
Os menonitas iniciaram suas comunidades no Brasil há quase 100 anos. Fundamentalistas, alegam ter fugido da União Soviética, que chamam até hoje de “regime comunista russo”, e criaram os primeiros vilarejos entre 1928 e 1934.
Inicialmente, instalaram-se no Vale do Rio Krauel, em Ibirama, Santa Catarina, região caracterizada por sua geografia montanhosa. Embora tenham conseguido progredir, a adaptação ao ambiente foi difícil, o que levou alguns a buscarem novas oportunidades. Assim, parte da comunidade migrou para Bagé, no Rio Grande do Sul, e Curitiba, no Paraná.
Ainda na década de 1930, os menonitas compraram a Fazenda Cancela, próxima a Curitiba, onde fundaram comunidades em bairros como Vila Guaíra, Boqueirão e na Colônia Witmarsum, em Palmeira, Paraná. Nessas localidades, construíram igrejas, escolas e fundaram cooperativas, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social da região.
Em 1936, foi fundada uma escola que mais tarde se tornaria o Colégio Erasto Gaertner, e em 1946, com grande esforço, a comunidade ergueu a Capela, o primeiro templo religioso menonita.
Devido às constantes perseguições, os menonitas buscaram refúgio em diferentes partes do mundo. No século XVIII, muitos migraram da Holanda e do norte da Alemanha para a Prússia e, a partir de 1790, para a Ucrânia, incentivados pela Czarina Catarina, a Grande da Rússia, que os convidou a colonizar a região.
No início do século XX, a comunidade menonita na Ucrânia já contava com mais de 100 mil pessoas, mas a Revolução Socialista de 1917 os motivou a sair de lá.
Em 1929, o governo confiscou grandes propriedades privadas, igrejas e escolas, forçando-os a buscar refúgio em outros países. Apenas 5 mil menonitas conseguiram vistos para emigrar, e em fevereiro de 1930, 1.250 deles chegaram ao Brasil.
Fonte: DCM