Primeiro paciente confirmado de Covid em Bauru tem alta e família relata drama

Uma salva de palmas repleta de emoção. Desta forma, o primeiro paciente confirmado de Covid-19, em Bauru, foi homenageado após receber alta do Hospital Unimed na terça-feira (14/04). Cláudio Buzalaf, de 51 anos, ficou internado por 21 dias. Em 11 deles, o empresário permaneceu entubado.

 

A sua esposa, a pesquisadora e professora da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB/USP), Marília Afonso Rabelo Buzalaf, de 49 anos, enviou à equipe da TV USP Bauru um vídeo do momento em que a família deixou a unidade de saúde. O JC reproduziu as imagens, que podem ser conferidas no www.jcnet.com.br.

Ainda muito debilitado, Cláudio preferiu que a companheira contasse o drama da família para o Jornal da Cidade. Por telefone, Marília revelou à reportagem que conseguiu o melhor presente de aniversário, celebrado ontem. A docente contou que o marido tomou cloroquina durante dez dias e, enquanto cientista, se mostrou favorável à administração do medicamento em pacientes com o novo coronavírus.

 

Abaixo, ela detalhou o passo a passo do empresário desde o início dos sintomas da doença. Confira:

 

Jornal da Cidade – Quando tudo começou? Quais sintomas o seu marido apresentou?

 

Marília Afonso Rabelo Buzalaf – O Cláudio fez uma viagem para São Paulo entre 16 e 17 de março. Os sintomas começaram no dia 21, que caiu em um sábado. Depois do almoço, teve indisposição e febre. Na segunda-feira, o meu marido se submeteu a uma tomografia do tórax, que mostrou lesões pequenas. O médico, então, o orientou a permanecer em casa. No decorrer da semana, ele perdeu o paladar e o olfato. Na quarta-feira, Cláudio fez outra tomografia e descobriu que as lesões aumentaram. Na mesma data, conseguimos uma consulta com o infectologista Edson Carvalho de Melo, no Hospital Unimed Bauru. O profissional o testou para Covid-19. Como o meu marido sofreu um infarto aos 40 anos, o médico também achou melhor interná-lo.

 

JC – Você acredita que o Cláudio se infectou durante a viagem à Capital Paulista?

 

Marília – Sim. Ele participou de uma reunião, na qual havia uma pessoa com sintomas de gripe. A filha dela, inclusive, tinha voltado da Itália recentemente.

 

JC – Quando ele piorou?

 

Marília – Na sexta-feira, dia 27, ele apresentou falta de ar, momento em que colocou um cateter de oxigênio. Em 29 de março, um domingo, ele relatou que nunca havia se sentido tão fraco e precisou ser entubado. Na segunda-feira, descobrimos que ele testou positivo para o coronavírus.

 

JC – Ele ficou entubado por quanto tempo?

 

Marília – Ao todo, foram 11 dias: de 29 de março a 9 de abril. Já a internação ocorreu entre 25 de março e 14 de abril.

 

JC – O seu marido tomou cloroquina?

 

Marília – Sim, por dez dias, contados a partir de 25 de março, quando o médico decidiu interná-lo.

 

JC – Você comentou que Cláudio sofreu um infarto há pouco mais de dez anos. Ele apresentou algum efeito colateral ao remédio?

 

Marília – O meu marido toma sete medicamentos de uso contínuo para o coração. Embora uma das consequências da cloroquina seja a arritmia, Cláudio não teve qualquer problema do tipo.

 

JC – E qual é a sua opinião sobre a cloroquina?

 

Marília –  Sou a favor da administração do medicamento. Inclusive, a literatura recomenda o uso por compaixão, porque não existe uma comprovação científica e, ao mesmo tempo, não temos outra opção.

 

JC – Você e os seus filhos também foram testados para Covid-19?

 

Marília – Nós temos trigêmeos: Gabriel, Rafael e Nathália, de 21 anos. A menina estava em Marília, onde estuda, e só chegou a Bauru na segunda-feira (13). Eu e um dos meninos fizemos o PCR em um laboratório particular da cidade. O outro não quis. O meu deu positivo e o dele, negativo. No entanto, acredito que seja um falso negativo, porque o meu filho apresentou vários sintomas, incluindo febre.

 

JC – Falando nisso, quais sintomas vocês tiveram?

 

Marília – Todos nós sentimos perda total do olfato, a ponto de você espirrar perfume no braço e não sentir. Fora isso, apresentamos tosse e dor muscular. As nossas manifestações apareceram ao mesmo tempo do que as do Cláudio, em 21 de março.

 

JC – Vocês tomaram algum medicamento?

 

Marília – Nenhum. Só um dos meus filhos, que apresentou febre, precisou utilizar um antitérmico.

 

JC – A família toda ficou isolada em casa?

 

Marília – Sim. Eu só saía para levar suprimentos ao meu marido, na Unimed. Nós fazíamos as compras básicas pela Internet. Até hoje, mantemos essa rotina.

 

JC – Qual é a recomendação médica para a recuperação do Cláudio?

 

Marília – Ele continuará tomando os medicamentos de uso contínuo. O médico também passou um sedativo para ajudá-lo a dormir, além de um remédio para controlar os delírios provocados pelo coma induzido.

 

JC – Você sabe me dizer qual foi o pior momento dele nos últimos dias?

 

Marília – Ele falou que sofreu muito com a entubação. Porém, o pior de tudo foi a ausência do contato humano, afinal, a família não podia visitá-lo e a equipe médica usava uma vestimenta que o impedia de distinguir um profissional do outro.

 

JC – Você é pesquisadora da FOB/USP. Desenvolve algum estudo ou pensa em fazer algo voltado à Covid-19?

 

Marília – Nós estamos em fase de aprovação de uma pesquisa, em parceria com o Hospital Estadual, para verificar os marcadores de progressão da doença em relação à quantidade de carga viral. A ideia é entender melhor o desenvolvimento da Covid-19 e encontrar as bases da sua terapêutica.

 

JC – O empresário Paulo Monteiro, que faleceu nesta terça-feira, provável vítima do coronavírus, segundo a família, era noivo da sua cunhada, irmã do Cláudio, correto?

 

Marília – Sim, da Renata. Ele não teve contato com Cláudio desde que o meu marido chegou de São Paulo. A Renata, por sua vez, se encontrou com o irmão em apenas um dia. Nós não sabemos se ela o contaminou. O casal não estava se vendo muito, porque Paulo temia pela sua mãe, que é idosa.

 

JC – Por fim, seu marido tirou alguma lição de tudo isso?

 

Marília – Viver da melhor forma possível, porque nunca sabemos o dia de amanhã.

 

MAIS UM CURADO

O Hospital Beneficência Portuguesa de Bauru registrou, na última semana, a alta do primeiro paciente da instituição diagnosticado com coronavírus. Trata-se de Nicandro de Souza Barros Junior, de 60 anos, que ficou internado entre os dias 1 e 6 de abril. O homem saiu da unidade de saúde sob aplausos e o momento chegou a ser filmado. As imagens estão disponíveis no JCNET.

Fonte: Jornal da Cidade de Bauru

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