Já o disse aqui que por força da minha profissão, sempre fui curioso nas observações de fatos que me rodeavam desde a infância. Estamos atravessando uma fase de intensas ondas de frio. Nunca gostei do frio intenso e esta minha aversão me acompanha desde a infância no sítio onde morei. Via os olhos tristes dos agricultores contemplando toda sua lavoura queimada pela geada. Já sabia observar aqueles olhos tristes de quem perdeu toda sua lavoura com a geada da noite. Aquilo me comovia ao ouvir eles contando sua história: além de perderem a produção, anda tiveram mais prejuízos com empréstimos bancários, feitos para o plantio e que seriam pagos após a colheita da safra.
Hoje morando na cidade grande, onde o inverno parece ser mais rigoroso, causa pena contemplar moradores de rua espalhados pelas calçadas em cima de caixas de papelão para fugir do frio, sem nenhuma assistência dos poderes públicos. Algumas instituições religiosas estão abrigando esses pobres durante a noite para dormir, fornecendo-lhes ainda uma sopa quente e café pela manhã. Isto a grande mídia não mostra.
Jornalismo de má qualidade informando nos noticiários da televisão, que a maioria desses pobres se recusa a serem conduzidos aos abrigos que os poderes públicos lhes oferecem. Mas não entrevistam nenhum deles. Se o fizessem ficariam sabendo que eles rejeitam esses abrigos porque seriam obrigados a tomarem banho com chuveiro frio e levantar as 5 horas da manhã. Sentem-se melhor nas ruas debaixo de viadutos acomodados dentro de caixas de papelão.
Falta jornalismo de qualidade para reportar a história completa e não se servir apenas de releases dos órgãos do governo dirigidos pelos pais da Pátria, que pessoalmente jamais saíram de seu conforto para constatar uma realidade que vem chocando a opinião pública. Estes mesmos pais da Pátria que à noite nos sofás diante de uma lareira quentinha de suas mansões, assistem a Maju, repórter negra que sabe produzir jornalismo de qualidade, prevendo madrugada fria não só em “Floripa” como em “Sampa” também. Dá o recado sem perder a simpatia.
Antes de comemorar a chegada dessas ondas de frio, vamos nos lembrar desses pobres, moradores de rua. Abrir nos guarda-roupas e levar para eles pelo menos os nossos agasalhos e cobertores que temos de sobra.